quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre a interatividade

Mas, afinal, o que é interatividade? Nada melhor que começar com uma pergunta, se não para fugir do tema, ao menos para deixá-lo mais intrigante. Para Levy (2010, p. 81), a “interatividade em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação”. Para Séguy (1999) a interatividade está presente na interface de produtos informatizados e oferece ao usuário meio para sua possível movimentação e manipulação, permitindo-lhe trilhar, acessar, ler, ver e alterar uma parte ou a totalidade das informações disponíveis. Santaella (2007), ao comentar o estudo de Silva (2000), atribui à interatividade características como multiplicidade, não-linearidade, bidirecionalidade, potencialidade, permutabilidade, imprevisibilidade etc. Já para Primo (2005, p. 13) são dois os tipos de interação: a mútua e a reativa. Na primeira, a interação é um constante vir a ser, não pode ser prevista e sua atualização se dá em função das ações de um interagente em relação ao(s) outro(s). Enquanto a interação reativa “depende da previsibilidade e da automatização nas trocas. Uma interação reativa pode repetir-se infinitamente numa mesma troca: sempre os mesmos outputs para os mesmos inputs” (Ibid., p. 13).

De saída percebe-se, portanto, que o termo é tanto característico de diversas definições, quanto corresponde a todas elas, sem deixar – para colocar ainda mais lenha na fogueira – de ultrapassá-las. Não seria, por exemplo, o ato de falar uma interatividade? Não seria a molécula de água uma interatividade entre dois hidrogênios e um oxigênio?

Afora essa questão inicial, cabe-nos aqui relacionar a interatividade do ambiente digital à dois fenômenos: o clipe do Bob Dylan e o Arcade Fire. E tomar como base preliminar a crítica da mimese tecnológica realizada por Bragança de Miranda. Segundo esse autor, a crítica está na predominância da interatividade como visualização e na determinação da arte pela visibilidade, sendo que o essencial desta seria a relação à invisibilidade.

Os dois exemplos permitem um manejo do usuário. Este participa tanto de maneira cognitiva, com produção de sentido e sujeito a interferências pessoais, quanto de maneira mecânica na realização de algumas escolhas (clique, nome da cidade etc). Com isso quebra-se a estrutura anterior, como a da TV, onde os manejos eram mais limitados. Mas continua-se, em certa medida, na mesma lógica. Agrega-se propostas de ação e conseguente visualização, mas mantém-se a visualidade. Permite ao usuário novas operações estéticas e suas decorrências sensórias, mas limita-se diante do potencial artístico do meio em seu caráter subvertedor. Causa sensações e experimentações outras que a da TV, por exemplo, mas será que realmente incomoda e causa estranhamento, deslocamento, reviravoltas etc?

Diversos artistas conseguiram esse caráter sem os recursos da web (Duchamp, Beckett, Cage e outros). E todos de maneira inter/ativa. Portanto, a discussão da interatividade na sua relação com o meio contemporâneo se mascara frente a seu uso indiscriminado e superficial, embaçando outras propostas possíveis de abordagem do tema, para além inclusive das propostas do séc. XX sobre o assunto. Não sendo a interatividade uma novidade o que poderemos pensar então sobre o tema?


A interatividade, como um recurso atual, pode facilitar a criação desses incômodos, estranhamentos, deslocamentos e reviravoltas. Pode, se levada mais adiante, revelar as mais diversas articulações possíveis entre o que há no mundo. Pode explicitar desejos, pulsões, associações e recalques do nosso psiquismo. Ou pode também servir (ou vir a ser) uma ferramenta tecno-social. De qual interatividade falar? Eis, portanto, uma questão preliminar para todos os que se interessarem pelo tema. 

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