Mas,
afinal, o que é interatividade? Nada melhor que começar com uma pergunta, se
não para fugir do tema, ao menos para deixá-lo mais intrigante. Para Levy
(2010, p. 81), a “interatividade em geral ressalta a participação ativa do
beneficiário de uma transação de informação”. Para Séguy (1999) a
interatividade está presente na interface de produtos informatizados e oferece
ao usuário meio para sua possível movimentação e manipulação, permitindo-lhe
trilhar, acessar, ler, ver e alterar uma parte ou a totalidade das informações
disponíveis. Santaella (2007), ao comentar o estudo de Silva (2000), atribui à
interatividade características como multiplicidade, não-linearidade,
bidirecionalidade, potencialidade, permutabilidade, imprevisibilidade etc. Já
para Primo (2005, p. 13) são dois os tipos de interação: a mútua e a reativa.
Na primeira, a interação é um constante vir a ser, não pode ser prevista e sua
atualização se dá em função das ações de um interagente em relação ao(s)
outro(s). Enquanto a interação reativa “depende da previsibilidade e da
automatização nas trocas. Uma interação reativa pode repetir-se infinitamente
numa mesma troca: sempre os mesmos outputs para os mesmos inputs”
(Ibid., p. 13).
De saída
percebe-se, portanto, que o termo é tanto característico de diversas
definições, quanto corresponde a todas elas, sem deixar – para colocar ainda
mais lenha na fogueira – de ultrapassá-las. Não seria, por exemplo, o ato de
falar uma interatividade? Não seria a molécula de água uma interatividade entre
dois hidrogênios e um oxigênio?
Afora essa
questão inicial, cabe-nos aqui relacionar a interatividade do ambiente digital
à dois fenômenos: o clipe do Bob Dylan e o Arcade Fire. E tomar como base
preliminar a crítica da mimese tecnológica realizada por Bragança de Miranda.
Segundo esse autor, a crítica está na predominância da interatividade como
visualização e na determinação da arte pela visibilidade, sendo que o essencial
desta seria a relação à invisibilidade.
Os dois
exemplos permitem um manejo do usuário. Este participa tanto de maneira
cognitiva, com produção de sentido e sujeito a interferências pessoais, quanto
de maneira mecânica na realização de algumas escolhas (clique, nome da cidade
etc). Com isso quebra-se a estrutura anterior, como a da TV, onde os manejos
eram mais limitados. Mas continua-se, em certa medida, na mesma lógica.
Agrega-se propostas de ação e conseguente visualização, mas mantém-se a
visualidade. Permite ao usuário novas operações estéticas e suas decorrências
sensórias, mas limita-se diante do potencial artístico do meio em seu caráter
subvertedor. Causa sensações e experimentações outras que a da TV, por exemplo,
mas será que realmente incomoda e causa estranhamento, deslocamento,
reviravoltas etc?
Diversos
artistas conseguiram esse caráter sem os recursos da web (Duchamp, Beckett,
Cage e outros). E todos de maneira inter/ativa. Portanto, a discussão da
interatividade na sua relação com o meio contemporâneo se mascara frente a seu
uso indiscriminado e superficial, embaçando outras propostas possíveis de
abordagem do tema, para além inclusive das propostas do séc. XX sobre o
assunto. Não sendo a interatividade uma novidade o que poderemos pensar então
sobre o tema?
A
interatividade, como um recurso atual, pode facilitar a criação desses
incômodos, estranhamentos, deslocamentos e reviravoltas. Pode, se levada mais
adiante, revelar as mais diversas articulações possíveis entre o que há no
mundo. Pode explicitar desejos, pulsões, associações e recalques do nosso psiquismo.
Ou pode também servir (ou vir a ser) uma ferramenta tecno-social. De qual
interatividade falar? Eis, portanto, uma questão preliminar para todos os que
se interessarem pelo tema.
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