Com
a proliferação do digital, da comunicação em rede e do
agenciamento interativo, a questão da técnica apresenta-se
novamente vigorosa ao campo de discussões sócio-tecnológicas.
Nesse cenário, ultrapassado pelo niilismo moderno e pela
disponibilidade, desfragmentação e aceleração (presentes, por
exemplo, nos movimentos artísticos de vanguarda), talvez seja
relevante pensar nas ideias de Heidegger e na sua relação com o
contemporâneo.
É
comum – talvez por tradição teórica – tomar a comunicação em
sua dependência das posições de sujeitos e objetos, e com isso no
seu potencial de manipulação com fins ao consumo, alienação ou
influências. Ideia que se apresenta próxima do conceito de bestand,
de Heidegger, relacionado mais com a potência que com a essência
que possa advir da técnica. Trata-se de um aproveitamento
condicionado da energia, de uma manejo, uma exploração, um uso
instrumental.
Um
exemplo hoje pode ser denotado no potencial participativo das pessoas
junto aos aparatos tecnológicos. Muitas correntes teóricas
trabalham com a ideia de produção e consumo, fruto principalmente
da web e das possibilidades de interatividade. O que seria essa tal
produção? O uso potência para uma atividade de criação? O
manipular das possibilidades disponíveis? Uma ordenação das
energias de reserva (bestand)? Uma exploração técnica programada
de modelos dados?
É
obvio que as atuais tecnologias abrem espaço para todas essas
possibilidades, mas seria reducionista pensar que a sua essência
termina por aí. Heidegger propôs que a técnica moderna abre
possibilidades para além das determinações tecnológicas; que na
sua essência – “que não é nada de técnico” – pode-se
desvelar o caráter da tecnologia como poiesis, e não somente como
instrumentalidade.
Muitos
são os que operam as energias de reserva superficialmente disponível
– e isso torna-se cada vez mais agudo. Mas será que são muitos
também os que a operam essa energia para ampliar as possibilidades,
de maneira mais profunda, subvertendo esse superficialmente dado?
Trata-se
aqui de pensar, então, na possibilidade de operar de maneira a
deslocar os enquadramentos. Trata-se de pensar em Gestell, no
movimento que impulsiona o ser na revelação de um “real”, e em
arte, a partir de sua origem grega (téchne), não ligada apenas a um
prazer estético, nem a uma atividade cultural, mas a um conhecimento
que provoca abertura e descobrimento.
O
aproveitamento das possibilidades técnicas contemporâneas seria
mais vigoroso se ao invés de utilitarismos, as ações fossem “atos
poéticos”, fossem arte; operassem a subversão e o deslocamento
para fora dos enquadramentos (ou pelo menos, para o transito entre
outros enquadramentos possíveis). E no seu modo de operar a
tecnologia, suas aberturas e potencialidades, pudessem explicitar
capacidades da nossa própria espécie, desconstruir conceitos
histórico e socialmente construídos a que estamos apegados e
revelar novas possibilidades, proporcionando estranhamentos, choques,
incômodos, dúvidas etc, capazes de produzir deslocamentos,
produções de novas metáforas e de progressivas questões
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