quarta-feira, 8 de outubro de 2014

It's all about the input!

A política não mais reside em alterar o mundo daqueles que vivem de fazer política, mas em alterar os meios para que estes sejam, em si mesmos, um território político.

A horizontalidade da produção e publicação de conteúdo já era observada por Walter Benjamin, em relação ao cinema e pela situação dos escritores a partir do final do século XVIII. Como observou Benjamin, em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, publicado em 1955, à medida que as técnicas da imprensa se desenvolviam, um número crescente de leitores começou a escrever, principalmente a partir da seção "Cartas dos leitores" dos jornais, meio que desenvolveu um papel central na formação das chamadas "consciência política" e "opinião pública". Como Benjamin observou, a crescente mão de obra especializada, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, contribuiu para o fenômeno da opinião do especialista e do valor da experiência nos relatos jornalísticos.

Com essa variação de input, a sedução dos meios de massa também estava na possibilidade dos mesmos serem veículo de "contemplação individual", nas palavras de Benjamin. Esse fator pode ser relevante na investigação do papel dos meios e de sua relevância como ferramenta política. Ao mesmo tempo em que os meios aumentam o potencial de participação do indivíduo ou de sua associação, têm em suas raízes um caráter narcisístico. Eis o exemplo de Benjamin, em seu ensaio referido acima, com relação à estetização da política: "Na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos; agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma. Sua autoalienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem."

Entretanto, ainda que o tipo ideal marxista consiga deslocar a estética do fim em si mesma (Benjamin termina seu ensaio apontando o comunismo como a ferramenta política da arte),  há de se pensar em como a configuração dos meios possibilita as várias interações e alterações do input na rede, e nos meios digitais em geral.

O "meio", por si só, é menos causa e efeito do que o input, ou seja, o pensamento que comanda a ação realizada pelos meios. No entanto, a engenharia dos meios exerce fator de inegável importância no desenrolar desse input e da cognição desencadeada por ele (entre esse fatores cognitivos, a atenção e a retenção das informações).

Sendo assim, tudo o que os meios possibilitam tem origem no input, uma vez que a própria tecnologia é resultado (output) de uma intenção/ação. Os meios em si não facilitam ou dificultam a participação política, mas a maneira como fazemos deles meios realmente nossos. O conteúdo digital, desmembrável e rearranjado infinitamente, é matéria-prima abundante. Qualquer matéria-prima sob domínio de um artista se torna algo de valor, se não financeiro, conceitual. Portanto, a arte não se encontra na participação, somente, mas na criação de um input facilitador de outros, igualmente relevantes.

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