sexta-feira, 20 de março de 2015

A interatividade nas obras de Bob Dylan e Chris Milk

Sempre existe espaço para boas surpresas nos atuais projetos audiovisuais veiculados pela internet que convidam o espectador à participação. Associado principalmente ao surgimento das novas mídias, o uso do conceito de interatividade parece ser necessário a estas produções para que sejam bem sucedidas. Assim, um grande número de obras utiliza recursos interativos para conseguirem uma aceitação maior junto ao público. Exemplos disso são o vídeo interativo de Bob Dylan Like a Rolling Stone lançado quase 50 anos depois da música e o projeto Arcade Fire the Wilderness Downtown,  de Chris Milk.

Os projetos são interativos. Dependem de escolhas do interator para alcançarem o objetivo. Embora seja possível assistir todo o vídeo de Bob Dylan apenas em um canal, quando percebemos que trata-se de um aparelho virtual de TV, em que podemos trocar os canais, “zapear” à vontade, nos surpreendemos em descobrir que as celebridades de programas de TV conhecidos estão cantando a música. Mude o canal e verá programas de culinária, moda, venda de usados, telejornal, tudo como deveria ser, mas todos cantando Like a Rolling Stone. Este é o clipe da música. Uma brincadeira com o próprio hábito do zapping, mudamos o canal, mas a música continua.

Like a Rolling Stone - Bob Dylan
No projeto Arcade Fire the Wilderness Douwtown,  de Chris Milk, a escolha por parte do interator é fundamental para o funcionamento do mesmo. O vídeo final só é gerado caso seja digitado um endereço no campo de busca, no caso, o seu endereço de infância. O resultado é surpreendente e imediatamente ativa antigas memórias. O programa gera uma narrativa que sincroniza em janelas pop-up um vídeo que mescla imagens gravadas especialmente para o projeto, com imagens de ruas provenientes do arquivo do Google Street View criando uma história onde o personagem percorre sua rua, visualiza a casa onde morou e a de seus vizinhos.


 Arcade Fire the Wilderness Downtown,  de Chris Milk.

Ambos os trabalhos utilizam arquivos de imagens que são acionados de acordo com a escolha do interator. Tais arquivos  possuem um número de imagens pré-definidas, mesmo no caso do arquivo do Google Street View. Este é o ponto chave da principal discussão sobre a interatividade. Como dizer que um projeto é interativo quando existe um limite de interação, se o interator só pode agir dentro de um banco de dados específico e pré-definido?

Talvez a resposta seja o que será feito dentro das possibilidades apresentadas. Desta maneira, segundo Levy, o espectador que interage com a obra acaba escrevendo sua própria obra, participa da estrutura do hipertexto e cria novas ligações mesmo que dentro de um universo limitado. Para Santaella (2011), o espaço aberto para o receptor passa a ser um espaço de inclusão, quando o artista convida o público a remixar sua proposta, curioso com as mutações que podem resultar do papel desempenhado pelo público.

Talvez por isso a interatividade ainda que dentro de limites previstos por programadores seja uma receita de sucesso para novos produtos culturais, pois aliada à criatividade desperta em nós sensações que se potencializam com a ideia de sermos nós, enquanto co-criadores quem definimos os rumos que tomarão a história que é contada.