Em
sua crítica, Benjamin discute o papel fundamental dos escritores no
combate ao fascismo. O autor, em termos conceituais,
estabelece uma diferenciação entre o que seria um escritor burguês
e um progressista, sendo este aquele que decide a favor da causa
proletária, que se coloca no campo da luta de classes e que tensiona
a estrutura dos meios de produção. Trata-se do “autor como
produtor”, solidário não apenas com o proletário, mas também
com outros possíveis produtores.
Com
essa lógica, Benjamin parece realçar um argumento em prol de uma
revolução, que, no tocante aos meios de produção, seria uma certa
desespecialização dos próprios meios, o que significaria uma
abertura do processo produtivo para além dos credenciados, adotando
uma lógica de uso legítimo onde todos podem, por princípio,
produzir.
Essa
última ideia ganha força hoje se pensarmos no potencial aberto
pelas tecnologias contemporâneas. Elas apregoam que todos podem –
desde que tenha interesse e acesso – tornar-se também produtor. O
digital e a lógica de rede facilitou o manejo a favor da produção
de conteúdos diversos, ampliou as negociações e interações –
do contato para as conexões – e eliminou certos entraves
espaço-temporais. Tudo isso, num primeiro momento, indica que, em
termos políticos, há uma possibilidade maior de participação das
pessoas na luta das causas que lhes interessarem.
Para
ilustrar essa situação, basta ver os acontecimentos de junho de
2013. A partir de organizações que começaram nas redes sociais,
estourou a nível nacional um movimento (ou movimentos)
contestatório(s). Sua ação ultrapassou, por exemplo, a mídia
convencional (que tornou-se, inclusive, alvo a ser contestado) e
revelou uma insatisfação tão pontual (motivadas por diversas
questões) como geral (tocou todo o país).
No
entanto, se pensado em termos do potencial hoje ofertado, talvez a
participação não seja tão aguda se proporcionalmente comparada
com ativismos do séc. XX, por exemplo. Mas talvez seja inútil tal
mensuração. Talvez seja apenas diferente. Ou talvez o que as
relações atuais entre meio e produção tenha denotado aponte-nos
uma outra questão.
Parece-me
que ao abrir tais preceitos, os meios contemporâneos revelaram
metaforicamente potenciais possibilidades da palavra “poder”,
como nos apresenta MD Magno, ao falar sobre a passagem de um “poder”
substantivo (que me parece bem mais relacionado à época de
Benjamin) para um “poder” verbo. Agora as pessoas estão
percebendo que podem, que também tem o poder. Com isso, fica-nos a
prerrogativa de questionar se não seria o próprio modelo político
(poder substantivo) hoje o cerne de uma causa cada vez mais perdida.
As próprias bandeiras do movimento de junho alertaram: isso não me
representa mais.
Porém,
na falta talvez de uma proposta outra ou na própria invisibilidade
desse “poder” verbo, os produtores ainda apresentam-se modestos.
A causa ainda tocou a poucos. Ou não interessam a muitos. Breve
saberemos.
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