A observação do pensador marxista Walter Benjamin sobre o
autor (e produtor de informações) estaria voltada para uma divisão de
interesses e autonomia, considerando as diferenças do escritor burguês e
escritor progressista. A liberdade de escrever o que quiser estaria delimitada
de acordo com a função e o nicho do autor. Referenciando Tretiakov, Benjamin
compara dois tipos de escritores, o operativo e o informativo: enquanto a
função do segundo é apenas informar, “a missão do primeiro é não relatar, mas
combater, não ser espectador, mas participante ativo”. Mergulhamos aqui em duas
grandes dicotomias de teorias do jornalismo, a do espelho e a construcionista
que trazem dois olhares distintos sobre produzir jornalismo. Por um lado, o
jornalismo deve ser imparcial e relator fiel da realidade, sem dispor de
opiniões, como se fosse um espelho a refletir exatamente o que acontece ali,
enquanto o construcionista deve atuar ativamente na construção de uma sociedade
melhor de forma a delimitar não apenas uma opinião, mas também nortear uma
série de reflexões que possam fazer o mundo um lugar melhor.
O que temos agora é uma pluralização gigante de “jornalistas”
construcionistas, que produzem conteúdo, promovem vínculos de identificação nos
meios alternativos, porque muitas vezes vários grupos de minorias não são
retratados como queriam na grande mídia. Sem entrar na grande questão
filosófica se o que o conteúdo informativo produzido livremente pelas milhares
de câmeras de celulares nas ruas, a fim de identificar um acontecimento social ou
um acidente é ou não é jornalismo, o que temos aqui são produtores
construcionistas de conteúdos que agem muitas vezes de forma operativa
(parafraseando Benjamin) na sociedade. Isso só é possível porque vivemos em uma
Cultura da Participação, onde todos são não só emissores de informação, mas
também produtores de conteúdo, seja ele ficcional ou não. Dentro dessa Cultura
da Participação, que é abarcada pela Cultura de Convergência, onde é possível
filmar com o celular e postar logo na rede, ficamos sabendo quase que
instantaneamente de incêndios, vemos vídeos produzidos pela galera da
comunidade sem corte e delimitação de estereótipos e temos acesso a materiais
ficcionais narrativos produzidos por fãs, que são muitas vezes até melhores do que
as propostas originais.
Sob o ponto de vista político, os meios digitais também
estão transformando os espectadores em participantes. Isso pode ser observado
nas manifestações de julho de 2013 e também em diversas outras questões do
dia-a-dia. Em relação às manifestações, graças às mídias alternativas e produção
de conteúdo independente dos próprios participantes vieram à tona novos olhares
sobre a realidade das manifestações, que a princípio a grande mídia não dava
total cobertura por questões políticas e pela amplitude do evento, onde seria
impossível captar tudo que acontecia no meio da multidão. Um bom exemplo é a atuação da Mídia Ninja nas
manifestações, que norteava através da cultura da participação um enfoque e
enquadramento diferente do convencional proporcionado pela grande mídia. Não só
a Mídia Ninja, mas também produções de conteúdos independentes de qualquer
pessoa que estivesse com o celular e observasse algo potencial de ser colocado
na rede era postado na internet e se tornava conteúdo informativo. Outros
exemplos rotineiros de como os espectadores também tornam participantes nos
meios digitais é que qualquer postagem pode auxiliar demais receptores e atuar
de forma a produzir uma crítica e buscar uma solução para um problema ao mesmo
tempo: informes sobre problemas relativos ao trânsito, enchentes, buracos nas
ruas, problemas no serviço público de saúde, corrupção, problemas relativos a
segurança. Embora esse espaço-rede propicie um mundo de noticias falsas,
fofocas ou verborragias desnecessária, é melhor ter uma rede livre do que algum
tipo de controle sobre ela. No mundo Big Brother, o que cai na rede é peixe e
muitas vezes esse peixe é saudável e não possui espinhos. Eles não só nadam em
um mar de informações, mas purificam e reproduzem conteúdo em um oceano onde
ocorrem poucas diferenciações de espécie: onde estamos todos juntos e
misturados.
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