tag:blogger.com,1999:blog-51743573615606125562024-02-18T20:32:55.708-08:00PoiesisProcessos de Comunicação e Artes Digitais
PPGCOM/UFJF. Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.comBlogger25125tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-1496728971942780032015-03-20T12:56:00.000-07:002015-05-11T10:44:33.071-07:00A interatividade nas obras de Bob Dylan e Chris Milk<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Sempre existe espaço para boas surpresas nos atuais projetos
audiovisuais veiculados pela internet que convidam o espectador à participação.
Associado principalmente ao surgimento das novas mídias, o uso do conceito de interatividade
parece ser necessário a estas produções para que sejam bem sucedidas. Assim, um
grande número de obras utiliza recursos interativos para conseguirem uma aceitação
maior junto ao público. Exemplos disso são o vídeo interativo de Bob
Dylan </span><a href="http://video.bobdylan.com/desktop.html" style="font-family: Arial, sans-serif;" target="_blank"><i>Like a Rolling Stone</i></a><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> lançado quase 50 anos depois da música e o projeto
</span><i style="font-family: Arial, sans-serif;"><a href="http://www.thewildernessdowntown.com/" target="_blank"><span id="goog_461415465"></span>Arcade Fire the Wilderness Downtown</a></i><span id="goog_461415466" style="font-family: Arial, sans-serif;"></span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">, de Chris Milk.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Os projetos são interativos. Dependem de escolhas do interator para
alcançarem o objetivo. Embora seja possível assistir todo o vídeo de <a href="http://www.bobdylan.com/us/home" target="_blank">Bob Dylan</a>
apenas em um canal, quando percebemos que trata-se de um aparelho virtual de
TV, em que podemos trocar os canais, “<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Zapear" target="_blank">zapear</a>” à vontade, nos surpreendemos em
descobrir que as celebridades de programas de TV conhecidos estão cantando a
música. Mude o canal e verá programas de culinária, moda, venda
de usados, telejornal, tudo como deveria ser, mas todos cantando <i>Like a Rolling
Stone</i>. Este é o clipe da música. Uma brincadeira com o próprio hábito do
<i>zapping</i>, mudamos o canal, mas a música continua.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="http://video.bobdylan.com/desktop.html" target="_blank"><img border="0" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8xi_9lC5kV2I6klkZ5FmRvzLuo6Q0YeooU7Sk12DuIQTcmqmiCyqmy6l9jo6QViZ4zvBKBzZcqyJHN8Ge6X8UMKgtStmcNbGmZz5fahBvmSW0_ivhVAOUB8iY2yPTvZPOgP8eb_43A2jR/s320/bob_dylan.jpg" width="320" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: xx-small;">Like a Rolling Stone - Bob Dylan</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">No projeto <i>Arcade Fire the Wilderness Douwtown</i>, de <a href="http://milk.co/" target="_blank">Chris Milk</a>, a
escolha por parte do interator é fundamental para o funcionamento do mesmo. O
vídeo final só é gerado caso seja digitado um endereço no campo de busca, no
caso, o seu endereço de infância. O resultado é surpreendente e imediatamente ativa antigas memórias. O programa gera uma narrativa que sincroniza em janelas <i>pop-up</i> um
vídeo que mescla imagens gravadas especialmente para o projeto, com imagens de
ruas provenientes do arquivo do <i><a href="https://www.google.com/maps/views/streetview?gl=br&hl=pt-BR" target="_blank">Google Street View</a></i> criando uma história onde o
personagem percorre sua rua, visualiza a casa onde morou e a de seus vizinhos.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><br /></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPUKjLPKj_F_fnFAOmUwLfl5oJK69VbiZZTr9AlDXXK2s7Vwjn6b0AnITj68rF4z_lK0QC2Kj50289IwkzaTi6nqxVn6xck2oGERzvmJrviY_yH2CkcFyFNjzdGkTedfsRJ-olBdtETL1Q/s1600/arcade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPUKjLPKj_F_fnFAOmUwLfl5oJK69VbiZZTr9AlDXXK2s7Vwjn6b0AnITj68rF4z_lK0QC2Kj50289IwkzaTi6nqxVn6xck2oGERzvmJrviY_yH2CkcFyFNjzdGkTedfsRJ-olBdtETL1Q/s320/arcade.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: #666666; font-size: xx-small;"><span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 23.3333320617676px; text-align: justify;"> </span><a href="https://www.blogger.com/" style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 23.3333320617676px; text-align: justify; text-decoration: none;"><span style="color: white;"><span id="goog_461415465"></span>Arcade Fire the Wilderness Downtown<span id="goog_461415466"></span></span></a><span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 23.3333320617676px; text-align: justify;">, de Chris Milk.</span></span></td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Ambos os trabalhos utilizam arquivos de imagens que são acionados de
acordo com a escolha do interator. Tais arquivos possuem um número de
imagens pré-definidas, mesmo no caso do arquivo do <i>Google Street View</i>. Este é o
ponto chave da principal discussão sobre a interatividade. Como dizer que um
projeto é interativo quando existe um limite de interação, se o interator só
pode agir dentro de um banco de dados específico e pré-definido? </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Talvez a resposta seja o que será feito dentro das possibilidades
apresentadas. Desta maneira, segundo Levy, o espectador que interage com a obra
acaba escrevendo sua própria obra, participa da estrutura do hipertexto e cria
novas ligações mesmo que dentro de um universo limitado. Para Santaella (2011),
o espaço aberto para o receptor passa a ser um espaço de inclusão, quando o
artista convida o público a remixar sua proposta, curioso com as mutações que
podem resultar do papel desempenhado pelo público.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Talvez por isso a interatividade ainda que dentro de limites previstos
por programadores seja uma receita de sucesso para novos produtos culturais,
pois aliada à criatividade desperta em nós sensações que se potencializam com a
ideia de sermos nós, enquanto co-criadores quem definimos os rumos que tomarão
a história que é contada.</span></div>
Lícia Fajardohttp://www.blogger.com/profile/08736497851654649810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-46266395590841287512015-02-05T16:18:00.001-08:002015-02-05T16:18:45.186-08:00Benjamin e o Século XXI: como o conceito de autoria evanesce diante das mídias digitais<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O ensaio "O autor como produtor", de Walter Benjamin (1934) traz importantes considerações sobre o debate de autoria e produção, que ainda podem repercutir nos tempos atuais. Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que Benjamin era marxista e que sua concepção tanto de autoria como relacionado ao produtor são reflexos de seus ideais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele trata, com a mesma dicotomia burguesia x proletariado, a relação entre autor x produtor. Enquanto o primeiro representa uma lógica burguesa, na qual é apresentada uma obra para fins de consumo, sem um posicionamento crítico acerca da política e da sociedade (pois para que o status desta classe se mantenha, esta não pode ser questionada), o produtor possui domínio da técnica e utiliza este conhecimento como forma de se engajar de forma crítica contra os meios de produção e o status quo. Assim, o produtor atua, de certa forma, como "produtor de mudanças sociais"; enquanto o autor exerce um papel de certa forma narcisista, no qual figura a importância de seu nome em relação a obra, e não o contrário. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É fácil perceber esta dicotomia, que subverteu até mesmo autores e obras que antecederam a ascensão da burguesia (e muitas delas até mesmo obras que foram críticas da sociedade a qual o autor vivia): a importância maior não é "Romeu e Julieta", e sim uma obra de Shakespeare. Esta lógica permanece até os dias atuais e implica diretamente em dilemas como a questão dos Direitos Autorais, como vamos explorar posteriormente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para o produtor, a ideia prevalece em relação a autoria. E talvez esta característica perpasse até os dias atuais mais do que uma intervenção política direta por parte do produtor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há sim a presença inquestionável de produtores de obras culturais, artísticas e de conteúdos diversos que vão tratar da intervenção política direta, pragmática, que promova uma inquietação na forma de poder a qual pretende desestabilizar. Mas até mesmo ações mais simples, como uma produção colaborativa de uma história no ambiente digital, na qual a questão da autoria se dilui completamente, importando o resultado final desta composição, são ações políticas, mesmo que os participantes não reflitam sobre isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando se questiona a autoria, os direitos autorais, os direitos de imagem, está questionando uma lógica capitalista na qual a produção é mercadoria. Um exemplo claro recente foi o <a href="http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2015/02/chico-buarque-processa-shopping-do-piaui-por-uso-indevido-de-imagem.html" target="_blank">processo movido por Chico Buarque contra um shopping por uso indevido de imagem,</a> quando ele fez apenas o mesmo movimento que milhões de internautas fazem todos os dias: criaram um meme em cima da capa do primeiro disco do músico. Provavelmente poucos usuários sabem que estão fazendo um ato de subversão quando criam um meme com esta imagem. Mas estão. Está sendo questionado ali o uso de uma imagem, com direitos autorais, em prol de uma produção que não está diretamente relacionada com política.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Internet se tornou um meio propício para colocar definitivamente um ponto final na questão da autoria. No momento que se torna possível que qualquer pessoa possa produzir um conteúdo a partir de outro já criado, ou uma produção realmente colaborativa, a autoria se torna frágil: como controlar todos os usuários que subvertem qualquer conteúdo um dia criado por Chico Buarque, desde suas capas de disco, fotos, download de suas músicas e livros, entre outros? E até que ponto isto é realmente lógico na sociedade das mídias digitais?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isto, cada vez que é colocado em xeque a questão da autoria, o usuário não sabe que está atuando como produtor, da forma que Benjamin estabeleceu. Não que isto não fosse possível antes - as paródias de Duchamp do quadro da Mona Lisa são um exemplo claro disto. Mas os meios digitais puderam tornar acessível este tipo de postura por qualquer usuário. Assim, direta ou indiretamente, este tipo de mídia propiciou uma postura de produtor por parte do usuário. A falha está em ele não ter consciência da sua ação política. E nisto é preciso que outros produtores conscientes possam exercer suas produções a fim de levar este conhecimento aos demais usuários dos meios digitais.</div>
Luciana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/16732776281832824158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-3095442445828869202015-02-01T09:41:00.000-08:002015-02-01T09:41:04.264-08:00A polêmica sobre o conceito de interatividade<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na academia, qualquer tipo de conceituação acaba gerando algum tipo de conflito. Isto acontece porque todo conceito parte de um ponto de vista, um pressuposto, e há diversas óticas operando em cima de um mesmo objeto (aquele que está sendo conceituado por pesquisadores e intelectuais da área).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O conceito de interatividade, que ficou em voga com o despontar da Internet, é um exemplo deste conflito acadêmico. Isto porque interatividade é concebido por alguns pesquisadores como a mudança de sentido que intervém no sentido original da obra. Assim, quando um leitor lê um livro e subtrai dele um certo entendimento que pode não ter sido o planejado pelo autor, ele estaria interagindo com a obra e, portanto, aplicando a interatividade. A produção de sentido seria feita na mente do interpretador, E esta acepção mostra que a interatividade não é um elemento que surge com os meios digitais - este apenas a potencializa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em contrapartida, outro conceito de interatividade parte do pressuposto de que o usuário possa intervir diretamente no objeto com o qual está interagindo, modificando sua estrutura, agindo de forma ativa. Atribuindo este conceito, encaixaria aqui as ações em jogos online e videogames, onde você pode optar por diferentes caminhos e cada um leva a um resultado diferente. Porém, as consequências de cada escolha já são pré-programadas - o usuário só tem que definir qual caminho irá seguir, mas o resultado delas não pode ser modificado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há ainda outros críticos que consideram que nenhum dos exemplos anteriormente citados seriam interatividade realmente, pelo fato de que o usuário não pode ter domínio dos resultados de suas escolhas, apenas seguindo um programa pré-estabelecido. Para estes, a interatividade só existe quando o usuário possui domínio sobre suas ações e os resultados destes. Um exemplo deste ponto de vista são as histórias criadas colaborativamente. O responsável pelo projeto começa dando as diretrizes iniciais, e posteriormente os usuários dão a continuação, com total liberdade para seguir o caminho que desejarem, deixando para o próximo continuar também da forma que quiser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao invés de colocar as três concepções em choque, como se elas se contradissessem, podemos reuni-las, como se as três fossem categorias diferentes da concepção de "interatividade". O primeiro caso se trata de <b>Interatividade Reativa</b>: a pessoa não pode modificar o objeto diretamente, podendo apenas reagir a ele, modificando o sentido ao qual o objeto se propôs.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo conceito seria uma <b>Interatividade Ativa Parcial</b>: o sujeito consegue agir efetivamente sobre o objeto com o qual interage, mas não consegue modificá-lo por completo. Não possui domínio sobre as consequências de sua interação. Este seria o caso do clipe de Bob Dylan para a música<a href="http://duka7.com.br/bob-dylan-lanca-um-dos-video-clipes-mais-incriveis-ja-vistos-na-internet/" target="_blank"> Like a Rolling Stones</a> e do projeto <a href="http://www.thewildernessdowntown.com/" target="_blank">The Wilderness Downtown</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já a terceira concepção se trataria de uma <b>Interatividade Ativa Total</b>: o sujeito consegue modificar o objeto, ajudando-o a ser construído ou determinando suas modificações. Outro bom exemplo disso é a Wikipedia, na qual o usuário colabora ativamente com o conteúdo, sendo a sua participação o resultado final. A intervenção feita ali é apenas para fins de correção, até que outro usuário interaja com este verbete.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Unindo essas três concepções, é possível enriquecer a concepção acadêmica de interatividade, sem descartar qualquer uma das acepções, que possuem sim seus pontos verdadeiros e relevância para o campo comunicacional.</div>
Luciana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/16732776281832824158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-34913842564592798012015-01-29T11:17:00.002-08:002015-01-29T11:17:57.035-08:00A Gestell e o artificialismo da transformáticaÉ uma tarefa problemática pensar a tecnologia atual através da visão de Heidegger. Isso porque ele pensava em dois tipos tecnológicos, um pré-moderno (ou pré-industrial) e profundamente envolvido com a natureza - sendo parte dela, em certo sentido - e outro moderno e destacado da natureza. Nesse sentido ele vai chegar na noção de "Gestell", que, segundo José Carlos Vasconcelos e Sá, significa a essência da tecnologia moderna como algo autônomo em relação ao humano ("A crítica da técnica e da modernidade em Heidegger e McLuhan", p. 127). Desse cenário surge então a noção de 'bestand', que, ainda segundo Sá, é como Heidegger representa o resultado dessa "transcendência" da tecnologia em relação ao humano, qual seja, o de um mundo habitado por "objetos sem valor em si, excetuando o uso que se lhes possa dar, (...) objetos produzidos sem individualidade real - no fundo, objetos degradados do humano" (idem, 127).<br />
<br />
Novamente pensando através da noção de rede, essa divisão que o filósofo faz entre "natureza" de um lado e "tecnologia" do outro perde a força. Em certo sentido, sendo o homem em grande medida ainda um animal, tudo o que ele faz acaba sendo parte, em maior ou menor medida, do que se chama normalmente de "natureza". Além disso, se pensarmos a noção de tecnologia de uma forma mais ampla, alicerçada pela noção de rede, ela está em tudo, desde a produção de uma fogueira (para a qual se usa a tecnologia das mãos etc) até os computadores. Em artigo recente, o escritor Affonso Romano de Santanna (em seu livro "Ler o mundo") afirmou que outro exemplo de tecnologia é a linguagem. E a partir dessa ótica teremos uma infinidade de outros exemplos.<br />
<br />
Outra questão importante levantada pela pergunta é a da produção de imagens. O mundo atual beira a 'vertigem' por conta da produção incessante de novas imagens, para a qual a capacidade humana não estaria preparada. A dúvida que surge é: alguma vez o ser humano esteve pronto para receber a quantidade de imagens que o mundo produz? De fato, nas épocas pré-computador, a quantidade de informações que chegava a uma pessoa era menor. Mas era menor apenas por conta das formas tradicionais de controle. Isso não significa que não existisse potencialmente uma quantidade imensa de imagens. Nos parece que, de uma forma ou de outra, as pessoas hoje utilizam os seus filtros - até porque, novamente relembrando Funes, o conto de Borges, trata-se de fato de uma questão de limite, já que é impossível pensar em várias coisas ao mesmo tempo) -, que agem como as formas de controle mais antigas.<br />
<br />
Sob esta perspectiva, não podemos escapar de considerar a visão de Heidegger algo fatalista - e, arriscaria dizer, outro algo "antropocêntrica" (ainda que ele não dispusesse da noção de rede, por exemplo, o que minimiza esse ponto). É claro que os jogos de poder não acabaram e isso significa que não se pode cair na posição oposta, de uma visão absolutamente otimista em relação ao que se chama de tecnologia. Nesse sentido inclusive cabe a colocação de Sá, quando afirma que "a análise de Heidegger procura (...) tornar visível o equívoco persistente na tradição filosófica ocidental em considerar a técnica algo neutro e passível de controle" (idem, 128). Mas não para concluir que ela seja um ente autônomo e que rebaixaria o homem a um papel secundário. Nos parece que o processo é mais heterogêneo e "mesclado", a tecnologia fazendo parte do que é humano da mesma forma que o contrário.<br />
<br />
E aí temos a questão da arte. Nesse contexto, vale citar a transformática. Nela, <span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-language: EN-US;">a
noção de “arte” surge sublinhada no radical ART, presente em termos como
“artifício", "artificial", "artificialismo", "artista", "artefato" e, especialmente,
"articulação”. Assim sendo, noções como “criação” e “arte” estão
ligadas, aqui, à ideia de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">articulação</i>,
ou seja, de produção de novas 'transas', baseadas sempre na lógica do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revirão</i>, e portanto, na lógica da
suspensão das oposições e na consideração e produção do maior número possível
de possibilidades, em qualquer situação. Esse
deslocamento, que funciona tendo como referência o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revirão</i>,
caminha sempre no sentido da produção de novos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">artifícios</i>, portanto de novas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">formas de arte</i>, que permitam a flexibilização das
duras oposições que invariavelmente ocorrem no nível sintomático do cotidiano e
da produção cultural humana – como, por exemplo, certeza-incerteza,
verdade-mentira, fato-ficção, arte-realidade etc. Nesse sentido, toda <i style="mso-bidi-font-style: normal;">arte</i>, para a transformática, é, no mesmo
processo, um ato analítico. É quando a formação acessa
o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revirão</i> e flexibiliza as diferenças
a um nível de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">indiferença</i> radical, o
que significa que a atividade se orienta pelo contato não apenas com os focos,
mas também com a extensa zona franjal que constitui a formação como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">rede.</i></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-language: EN-US;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;">Partindo desses pressupostos, a visão de Heidegger ganha ainda mais o contorno do fatalismo. O "enquadramento" passa a ser não o da tecnologia em relação ao ser humano, mas sim o das formações excessivamente recalcadas da sintomática cotidiana, ou seja, daquelas que tenham dificuldade de variar as suas "transas" - e, portanto, novas "articulações"</span><span style="mso-bidi-font-style: normal;"> -, em relação às possibilidades de flexibilização do artificialismo. Para a transformática, o "Gestell" estaria aí.</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i><span style="mso-bidi-font-style: normal;">E aquilo que se chama de tecnologia </span><span style="mso-bidi-font-style: normal;">passa a ser apenas mais um pedaço dentro desse enredo - e não um protagonista que estaria orquestrando, de forma transcendente, uma "degradação do humano"</span><span style="mso-bidi-font-style: normal;"> (como diz Sá à p. 127).</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"></i></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-language: EN-US;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></span>Marcelo Henrique Marques de Souzahttp://www.blogger.com/profile/16885784447989513694noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-57731466342309758042015-01-28T07:53:00.001-08:002015-01-28T07:53:29.542-08:00Atenção e Há-tensão das formações contemporâneasA riqueza do trabalho de Jonathan Crary reside no fato de que ele transita de forma cuidadosa pela ambivalência do tema que escolheu pra desenvolver, o tema dos mecanismos de atenção, notadamente no século XIX e na virada deste para o século XX. Ou seja, ainda que aponte para os aspectos disciplinadores e espetaculares da virada da modernidade (o que mostra sua ligação com as ideias de Foucault e Debord, respectivamente), ele não deixa de citar constantemente o outro lado, ou seja, as possibilidades contraindutivas presentes no fenômeno que ele designa como "atenção".<br />
<br />
Vale colocar que, mesmo dentro desta perspectiva "bipolar", que nos interessa, o autor adota a 'subjetividade' como um referente frequente, o que parece ser inescapável diante da escolha da "atenção" como tema central de análise. Não é a nossa, que já que ele não escapa de seguidas vezes trabalhar com uma divisão entre "mundo exterior" e "experiência perceptiva interna" que não cabe, por exemplo, na noção de rede - assim como também não se encaixa com a transformática, que também pensa o que já se nomeou "sujeito" ou "subjetividade" como uma "rede de formações", que seriam aglomerados simbólicos cambiantes e em constante relação com outros aglomerados. Essa divergência, ainda que deva ser colocada, não apaga entretanto a importância de várias questões levantadas pelo autor.<br />
<br />
Uma dessas questões ele coloca quando diz que "a lógica dinâmica do capital começou a enfraquecer de maneira drástica qualquer estrutura estável ou durável da percepção" (35). Ele sugere então, numa afirmação algo foucaultiana, que "essa lógica impôs ou procurou impor simultaneamente um regime disciplinar de atenção" (idem). Crary faz então um passeio pelo debate teórico a respeito da atenção e temas adjuntos, passando por um grupo de autores bem amplo, que vai desde Kant, Schpenhauer e Freud até Foucault, Debord e Hannah Arendt, para situar tanto as visões que pensavam a atenção como um mecanismo de defesa repressivo e disciplinar contra o "perigo" da livre associação (que remete a certos princípios freudianos, como o do superego e da neurose), quanto aquelas que, ao contrário, viam na atenção uma possibilidade daquilo que o autor chama de "novas condições de subjetividade" (47). Por isso ele cita "as relações inconstantes entre o poder institucional/discursivo, de um lado, e uma composição de forças que resistia de maneira inerente à estabilização e ao controle de outro" (idem). Em outras palavras, a atenção como 'fomento da passividade e do automatismo' de um lado, e como 'estratégia de resistência voluntária' de outro ("a atenção como expressão da vontade consciente do sujeito autônomo" (48)).<br />
<br />
O texto tem o mérito de conter um apanhado histórico e crítico e, no nosso entendimento, chega em seu ápice quando pondera que a atenção traz em si as condições para sua própria desintegração - "o estado de atenção [é] na verdade inseparável do de distração, devaneio, dissociação e transe" (70). E isso nos traz à pergunta, ou seja, ao mundo contemporâneo.<br />
<br />
Em nossa concepção, não há uma diferença estrutural que distingua a atenção no mundo moderno e a atenção no mundo contemporâneo. Na verdade, nos parece que se trata, fundamentalmente, do embate histórico entre o foco e a flexibilização da experiência. Na Idade Média, por exemplo, certamente esse embate se dava de forma sistemática no jogo das estratégias religiosas para angariar a 'atenção' dos fieis (no que um estudo mais detalhado sobre os rituais e praxes da liturgia pode ajudar bastante a desenhar). Mesmo com toda a força da imposição do poder católico, isso certamente não apagava a existência de "experiências flexíveis" no âmbito da vida particular de cada pessoa que lá vivia. A diferença maior da nossa época está, talvez, no fato de que a modernidade, ao contrário das épocas tradicionais, eleva a "experiência flexível" ao status de eixo, o que automaticamente empurra as tentativas de controle para o campo da sugestão e não mais da força "absolutista" (ainda que esta sobreviva como última instância, estritamente policial).<br />
<br />
O texto de Crary nos trouxe a lembrança do conto de Borges, "Funes, o memorioso", a história de um homem que não consegue mais esquecer e acaba escravo dos detalhes. É um conto que está carregado da mesma ambivalência que impregna o artigo de Crary: o foco excessivo nos leva ao ápice da repetição mecânica. O "esquecimento" (que Borges traz como eixo e Crary cita quando fala de Nietzsche) acaba sendo uma parte inescapável de qualquer "foco", o que aparece na transformática quando esta trabalha com a noção de 'formações', formadas por pólos, focos e franjas. O campo das franjas, tudo aquilo que existe na rede mais ampla daquela formação, pode ser pensado como aquilo que reside no entorno de toda "atenção" (ou foco), ou seja, o que "esquecemos" voluntariamente para poder exercitar o enquadramento pontual de alguma coisa. Nesse sentido, o foco é um ponto de 'redução' que recalca o restante das possibilidades, para poder trabalhar temporariamente num núcleo de situação que, apesar do recalque, não ignora a existência das franjas (ao contrário, trabalha com elas como parte constitutiva do processo). O que em certo sentido mescla os dois pólos da atenção trazidos por Crary: associação e dissociação no mesmo embalo.<br />
<br />
Por último, cabe citar a crítica que o autor faz à televisão e ao computador que, segundo ele, "apesar de convergirem para uma operação maquinal única, são processos antinômades que fixam e estriam. São métodos para controlar a atenção por meio de compartimentalização e sedentarização, tornando os corpos controláveis e úteis, ao mesmo tempo em que geram a ilusão de escolha e 'interatividade'" (101). Essa crítica diz respeito ao mundo contemporâneo e pode fechar esta resenha trazendo a questão chave: os mecanismos de atenção na sociedade contemporânea. Há o TDA (Transtorno de Déficit de Atenção) que o autor cita - e que, apesar de demonstrar uma dificuldade inegável do exercício do rigor ("atenção") por parte dos estudantes atuais, pode ser também um aspecto que ilustra de forma significativa a falência dos projetos educacionais institucionais que trazemos desde o iluminismo pra cá -, há também o fenômeno do marketing. O marketing parece ser parte fundamental da ambivalência descrita pelo autor em sua tese: por um lado, aponta para o reinado das mensagens curtas e que demandam um mínimo de cuidado reflexivo (o importante é seduzir, atrair a 'atenção' para o consumo rápido e sem maiores questionamentos); entretanto, por outro lado, a própria existência do marketing parece apontar para o fato de que estamos numa época na qual os mecanismos de controle e disciplina existem num formato razoavelmente flexível. Ora, se preciso criar uma estratégia de convencimento que atraia a atenção do consumidor, é porque essa atenção não existe garantida a priori - o que aponta para a existência de um jogo e não de um sistema de controle. Resta refletir até que ponto esse jogo não acaba resultando numa lógica que empobrece o diálogo dos focos com suas franjas - o que acaba em formações excessivamente recalcadas por excesso de foco. Sem entretanto cair no pólo oposto, de uma crítica da tecnologia como um instrumento que carregue esse empobrecimento como essência. Avaliar o tipo de atenção que está em jogo em cada situação é o mais importante, para não estancar em nenhum dos dois lados.<br />
<br />Marcelo Henrique Marques de Souzahttp://www.blogger.com/profile/16885784447989513694noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-71856467769009972392015-01-23T13:14:00.001-08:002015-01-23T13:14:17.927-08:00Atenção em fluxo contínuo<div style="margin-bottom: 0cm;">
A atenção e a falta dela foram
problematizadas desde que o capitalismo passou a ditar a
especialização como modo de acesso à vida urbana e aos meios de
produção. Esse é o argumento de Jonathan Crary, historiador da arte e
autor de <i>Suspensões da Percepção</i>, que propôs uma reflexão
sobre a temática "atenção" segundo a
escola foucaultiana. Desse modo, treinar o foco perceptivo do
indivíduo, entre outras coisas, estaria relacionado ao controle e à
disciplina, requisitos fundamentais para o aprendizado aos moldes liberais: letramento, raciocínio lógico e empreendedorismo.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
Crary critica o senso comum de que a fragmentação da atenção
e a descentralização do sujeito são fenômenos contemporâneos à disseminação das tecnologias de informação e
comunicação. Para o autor, o conceito de atenção está
intimamente ligado ao de percepção, sendo esse constantemente
alterado pela história dos meios. Quando a representação da imagem passou a desafiar a
ideia de um estado natural das coisas (a percepção passa a ser
o resultado de uma fisiologia específica, o que faz dela variável e duracional), a didática do positivismo dá
lugar à valoração da subjetividade.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Subjetividade essa que apenas se
intensificou com o preceito fundamental (se é que podemos
considerá-lo assim) da pós-modernidade, o antifundamentalismo. Se a
percepção sobre as possibilidades do mundo e do homem alteram os
meios, os quais, por sua vez, modificam radicalmente o comportamento
humano em todos os aspectos da vida social, como conciliar a rigidez
do sistema econômico e a falibilidade da política com a consciência
cada vez mais dilatada dos cidadãos? </div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
É no rastro reflexivo de Crary que se
acrescenta o didaticismo de outro autor, preocupado com o
multidirecionamento da atenção dos indivíduos. Howard Rheingold,
em seu livro: <i>Net Smart: how to thrive online</i><span style="font-style: normal;">, analisa o comportamento humano frente ao desafio de </span><span style="font-style: normal;">ter
uma participação ativa e consciente (o autor utiliza o termo</span><i>
</i>"<i>mindful</i>"<span style="font-style: normal;">) enquanto conectados. Sem cair na historicidade da percepção, Rheingold centra seu estilo no praticismo. <i>Net Smart</i> pode ser lido como um manual, um guia para o exercício da cidadania digital e sucesso no equilíbrio entre foco e dispersão.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
<span style="font-style: normal;">Ao enfatizar que a atenção pode ser treinada, Rheingold assume uma postura de indiferença quanto às críticas ao sistema, nas quais se baseia a obra de Cary. Como o primeiro narra, a própria experiência de professor de alunos conectados o tempo todo lhe causou uma inquietação. Estariam aquelas pessoas menos presentes, ou presentes de maneira diferente, em vários lugares ao mesmo tempo? Talvez essa seja a pergunta que vale a pena ser investigada, mas Rheingold se concentra na explanação de técnicas de adequação do comportamento multitarefa aos padrões escolares, sociais e profissionais. Já Crary </span>visiona a relação dos seres com suas tecnologias da seguinte maneira: "será uma colcha de retalhos de efeitos flutantes em que indivíduos e grupos continuamente reconstituem a si mesmos" (tradução livre da citação, p. 370).</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
<span style="font-style: normal;">No entanto, é compreensível a estratégia de Rheingold frente ao discurso científico. Esse, até onde foram </span><span style="font-style: normal;"><span style="font-style: normal;">as investigações de <i>Net Smart</i>, </span>identifica o cérebro humano
como um processador de um único núcleo, ou seja, segundo essa metáfora, estaríamos preparados para desenvolver bem apenas uma
tarefa de cada vez.</span> Sob esse mesmo preceito está a escola que preza pelo aprendizado subdividido em
disciplinas, com pouco diálogo entre elas, continuando a se distanciar da percepção
da "geração Y" sobre o mundo, onde tudo se conecta com tudo.<span style="font-style: normal;"> </span>Por mais que as pesquisas possam realmente revelar uma delimitação biológica, deixa-se de lado uma questão fundamental: a diacronia dos regimes formais em relação às possibilidades reais e presentes de aquisição de conhecimento e de formas de relacionamento, seja com o outro ou com o próprio corpo. </div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
Avançando nas discussões sobre o tema, cabe elaborar, a partir do ponto de vista dos dois autores, uma terceira via de raciocínio. Em <i>Suspensões da Percepção</i>, Crary lamenta a descontinuidade do interesse geral por pesquisas com hipnose, que no século XIX revelaram a impressionante capacidade da
mente de suspenção temporal e espacial, ao mesmo tempo do exercício de
profunda concentração. Em prol de um reavivamento empírico, e por hora este parece um questionamento interessante, por mais que as presentes pesquisas sejam mais ou menos categóricas em limitar a capacidade do cérebro de adaptação aos nossos hábitos cada vez mais simultâneos e fugazes, o que dizer da fisiologia daqueles que já nasceram em ambientes altamente interativos? Estarão esses melhor preparados para lidar com múltiplas demandas de atenção ao mesmo tempo, sem com isso sofrer prejuízo cognitivo em cada uma delas?<br />
<br />
<span style="font-style: normal;">É de se imaginar que, se
uma pessoa como eu for submetida a um teste sobre o quão bem ela se sai
diante de múltiplas tarefas, é provável que se saia mal, pois durante a
maior parte da vida terá sido acostumada a trabalhar bem apenas com o foco
unidirecional, pois esse foi o modo de alfabetização nas décadas de 1980 e 1990. Não só na escola, mas nas famílias onde, citando apenas um exemplo, o costume de não ligar a TV durante as refeições também revelava a preocupação com uma certa presença "espiritual" centrada em um só momento. </span><br />
<span style="font-style: normal;"><br /></span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0RdeVo3CkdWLvQt-I0SUSk8d-c_zcAezbktVCmwIQawW8qIgEp2WiD5fICRrAz599_AmSeaiGxtY83d9CAATqDsO_jmUYLQUm7JPbym0MQWvSJEtmZ6j-CkFshEZkKIPCws8wSpj5mBw/s1600/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0RdeVo3CkdWLvQt-I0SUSk8d-c_zcAezbktVCmwIQawW8qIgEp2WiD5fICRrAz599_AmSeaiGxtY83d9CAATqDsO_jmUYLQUm7JPbym0MQWvSJEtmZ6j-CkFshEZkKIPCws8wSpj5mBw/s1600/1.jpg" height="179" width="320" /></a></div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZjrvt6jplMyqmjRMcWXxOYW2oUiUOIJ3OVf-HYHa3LODWBADmzlk09XCKqKLbM6rDOvpvsVyILg3r60QajlPzodD5oS6NKjmo7HS2dkANT9t4neeZtlFqWTeYFbDyriTwvxWykXL7jQ/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZjrvt6jplMyqmjRMcWXxOYW2oUiUOIJ3OVf-HYHa3LODWBADmzlk09XCKqKLbM6rDOvpvsVyILg3r60QajlPzodD5oS6NKjmo7HS2dkANT9t4neeZtlFqWTeYFbDyriTwvxWykXL7jQ/s1600/2.jpg" height="179" width="320" /></a></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw4iQOAwEEsDegUqxWwUuQjrrkZyWTQ81ZhfGu0IellTo2y6Ob9tty1Af_ypujWqJLEV4jcOe7CtXRHRNM7FO0-8g_gYeNqx3Yfpn519qQXrXL3RE44bJ__mulkjZJ9KzH997lBhecaSY/s1600/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="Cenas do filme The Switch (2010)" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw4iQOAwEEsDegUqxWwUuQjrrkZyWTQ81ZhfGu0IellTo2y6Ob9tty1Af_ypujWqJLEV4jcOe7CtXRHRNM7FO0-8g_gYeNqx3Yfpn519qQXrXL3RE44bJ__mulkjZJ9KzH997lBhecaSY/s1600/3.jpg" height="177" title="" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cenas do filme The Switch (2010), em que o personagem Wally (Jason
Bateman) se irrata com o zapping de Sebastian (Thomas Robinson)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: left;">
</div>
<span style="font-style: normal;">Sendo assim, o tempo e o interesse contínuo pelo tema trarão novas respostas. No entanto, para o que interessa ao tempo presente, cabe destacar que, </span>goste-se ou não, a sociedade é seletiva, controladora e preza pela capacidade de desempenho. Se, biologicamente, ainda não somos capazes de conciliar a relação com nossos dispositivos com as formalidades exigidas pelo sistema educacional e mercadológico, resta o uso de estratégias. Treinar a atenção significa mais do que exercer a concentração para uma determinada tarefa. Segundo a abordagem gestáltica, o único modo de estar presente no mundo, com todo o potencial que ele oferece, é entrar no modo <i>awareness</i>, prestar atenção no ato de prestar atenção, a consciência do aqui e agora. Na prática, significa saber <span style="font-style: normal;">como funciona o sistema, usá-lo para um determinado objetivo </span>e subvertê-lo quando não se precisa dele. </div>
D. Anahttp://www.blogger.com/profile/14719653854039010368noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-61265896186737880702015-01-13T15:08:00.001-08:002015-01-13T15:08:24.697-08:00Multitasking: mitos e mecanismos de controle<div style="text-align: justify;">
<u><b><span style="color: red;">Multitasking</span></b></u>. Esta parece ser a palavra-chave deste início de Século XXI. Estar em um lugar e exercer apenas uma tarefa, ter atenção para apenas um fato parece ser algo ultrapassado, nonsense, totalmente fora da realidade. Se a Internet já nos aproxima de toda e qualquer informação, principalmente com a possibilidade dada pelo Google com seu modelo de pesquisa, os aparelhos móveis potencializaram a exigência desta nova qualidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, como o autor Rheingold ressalta no primeiro capítulo de seu livro Net Smart - How to Thrive Online, é muito improvável que um ser humano consiga realmente dedicar exatamente a mesma atenção para dois focos completamente distintos. O autor cita diversas pesquisas realizadas por neurocientistas e outros profissionais da saúde que constatam os resultados que ele mesmo havia notado entre seus alunos na sala de aula. Ele inclusive dá conselhos, os quais o próprio autor testou, para conseguir controlar as distrações tentadoras do mundo contemporâneo para que possa ter controle sobre sua atenção. Voltaremos a isto posteriormente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, se a atenção não pode ser múltipla, o que então nos dá a sensação de sermos multitasking?<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.bethkanter.org/wp-content/uploads/net-smart-mindfulness.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://www.bethkanter.org/wp-content/uploads/net-smart-mindfulness.jpg" height="320" width="241" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ilustração do livro Net Smart: How to Thrive Online, <br />e que mostra a necessidade de se" estar atento a estar atento".</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, nossa atenção é fragmentada. Ao desviar os olhos de um interlocutor para a tela do seu tablet, há uma perda significativa da atenção dada ao amigo, professor, colega, chefe a sua frente para o conteúdo que está ali. E isto nos dá a falsa sensação de que estamos realmente fazendo duas coisas ao mesmo tempo. Porém, não são todas as pessoas que se sentem confortáveis com esta falsa sensação: não é a toa que o uso indiscriminado de medicamentos para tratamento de TDAH aumentou drasticamente nos últimos anos. Iludidos por um discurso de que pessoas normais conseguem se concentrar perfeitamente em algo e não ter a sua atenção desviada por outras coisas faz com que estudantes, concurseiros, pesquisadores, entre outras pessoas que de alguma forma exercem trabalhos intelectuais acabem se rendendo ao uso de Ritalina, por exemplo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como todo discurso, há por trás dele intenções que podem estar nítidas ou não para a maioria das pessoas. Neste caso, que parece que não, é preciso ficar atento, principalmente pesquisadores, para as reais razões de se alimentar que é necessário ser alguém capaz de dar múltipla atenção a diferentes estímulos ambientais (música, filme, telefone tocando, mensagens no Whatsapp, olhar a lista de e-mails, ver atualizações do Facebook, e por aí afora).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b><div style="text-align: justify;">
<b>Atenção como forma de controle e disciplina</b></div>
</b><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Crary, no primeiro capítulo do livro Suspensões da Percepção trata também sobre atenção. O autor também afirma que as percepções se modificam com as novas tecnologias - afinal, são novos tipos de signos que entram em contato com a mente interpretadora, que anseia por eles, por serem instigantes, diferentes, atraentes. A partir deste novo paradigma tecnológico, perde-se o domínio da visão como forma de comprovar a percepção sensorial: agora ver, ouvir, cheirar, sentir, tocar, enfim, todo estímulo aos sentidos é uma prova da existência do objeto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Posteriormente ele irá trazer Foucault e a sociedade disciplinar, afirmando que ela também é uma forma de disciplinar a sociedade. Mais do que isso, a atenção é um instrumento não só de controle, mas também de vigilância do ser humano.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem possui domínio sobre a atenção de determinado ser, consegue exercer controle sobre sua forma até mesmo de apreender a percepção. Um exemplo simples: se uma plataforma como o Facebook atrai mais atenção do usuário do que qualquer outra rede social ou outra tarefa que pode ser realizada no ambiente virtual, ele consegue prender aquele usuário em seus protocolos (que muitas vezes operam justamente como mecanismos de controle sobre o que o usuário pode e não pode fazer, por trás de uma falsa sensação de liberdade na rede). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir deste controle, que molda as ações dos seres na rede, quanto mais tempo ele destinar a dar atenção para determinada plataforma e não outra, mais informações ele poderá dar para os instrumentos de vigilância. Outro exemplo simples: um usuário que passe 20 minutos no Facebook sem interrupção tem mais chances de encontrar conteúdos que lhe agrade, páginas para curtir, fotos para compartilhar, comentários sobre suas visões de mundo e, consequentemente, repassando informações não só para as agências de marketing, mas também para setores governamentais. Ou seja, a disputa pela atenção é imprescindível neste contexto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, por isso a valorização do multitasking. Sabendo que é impossível que um usuário utilize apenas uma ferramenta neste meio, o discurso de ser "multitarefa" é vendido para que os usuários tentem destinar o mesmo tempo para diversas plataformas: Facebook, Google, YouTube, e-mail, enfim. Vale aqui a máxima "se não pode vencê-los, junte-se a eles". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b><div style="text-align: justify;">
<b>A intenção como forma de contrabalancear o controle</b></div>
</b><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, da mesma forma que não há como simplesmente ficar totalmente offline, é possível utilizar-se de mecanismos para tentar driblar este controle e vigilância excessivos. Se você utilizar estes meios já sabendo a intenção deles pode, a partir disto, fazer uso da sua atenção fragmentada de forma consciente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Exercícios de concentração e controle da atenção, tal como Rheingold mostra em seu livro podem ser boas estratégias para não ser seduzido facilmente por estes mecanismos, podendo ter o direito de "se libertar" delas quando desejar. Além disto, é possível "passar a perna" nestes mecanismos de vigilância. O uso consciente e intencional das redes sociais evitando a exposição em ações diretas e indiretas, o uso de criptografia em mensagens de e-mail e o uso de navegação anônima pode não evitar que estas ferramentas continuem apelando para quererem sua atenção, mas é uma forma de "sabotá-las", por assim dizer, demonstrando que não está tão suscetível assim a estes mecanismos.</div>
Luciana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/16732776281832824158noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-37593679042489527842014-12-09T15:17:00.000-08:002014-12-09T15:41:09.687-08:00Em busca de práticas que nos tornem atentos<div class="p1">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Nas últimas décadas pudemos perceber uma mudança de comportamento e consumo, principalmente após a popularização do uso do computador e da internet. O surgimento de ferramentas on-line, redes sociais e diversas atrações que nos mantêm sempre conectados multiplicou a quantidade de informação e a velocidade com que esta informação circula. Tudo isso aumenta a possibilidade de distração do sujeito e cria, por outro lado, novas formas de percepção e aprendizado.</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span></div>
<div class="p1" style="text-align: justify;">
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpXksrSz6HKkpWE03o1WtxXJbuzjzuzjDe_aGApoGfeZLP6KM8n1Tj8_33sQhCvv9prm0NnB0O5i5vfvqsojgTD_nvg0Dch8ZuDRuJ_vviXWeBnMJVGFf2KxKRkAU4TSzlxxP8Zr3swrE/s1600/EP311-Crary.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpXksrSz6HKkpWE03o1WtxXJbuzjzuzjDe_aGApoGfeZLP6KM8n1Tj8_33sQhCvv9prm0NnB0O5i5vfvqsojgTD_nvg0Dch8ZuDRuJ_vviXWeBnMJVGFf2KxKRkAU4TSzlxxP8Zr3swrE/s1600/EP311-Crary.jpg" height="111" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Jonathan Crary</td></tr>
</tbody></table>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No livro <a href="http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/10/26/jonathan-crary-genealogias-da-percepcao-moderna-513170.asp" target="_blank">Suspensões da Percepção</a>, <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Jonathan_Crary" target="_blank">Jonathan Crary</a> descreve como os estudos sobre a atenção atravessaram os séculos e ainda ocupam lugar importante nas pesquisas atuais. Faz um estudo aprofundado revisando conceitos criados por diversos pesquisadores desde o séc XIX buscando apontar o papel da atenção na modernização da subjetividade e comprovar como o que ouvimos, olhamos ou nos concentramos atentamente em nossas tarefas rotineiras, possui profundo caráter histórico, como se estivéssemos nos adaptando ao modo de prestar atenção.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O autor reforça o uso do termo percepção, para enfatizar a presença dos outros sentidos além da visão, como o tato e a audição e outras formas sensoriais, com o objetivo de demonstrar que a visão é apenas uma das partes de um corpo que pode ser capturado, modelado ou controlado por uma série de técnicas externas.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Segundo ele, há um interesse por parte do poder institucional para que a percepção possa garantir um sujeito produtivo, controlável, previsível, adaptável e que possa integrar-se socialmente, p.29. O autor fala também sobre os limites da atenção e das patologias derivadas da falta dela ou da impossibilidade em controlá-la, além do fracasso de inúmeras tentativas de controle da atenção ao longo do séc XIX.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Crary explica como a lógica da dinâmica do capital passou a impor um regime disciplinar de atenção, para o qual a desatenção passou a ser tratada como problema. Atribuía-se uma série de psicopatias ao funcionamento não convencional da atenção. “A atenção tornou-se assim, um modo impreciso de designar a capacidade relativa de um sujeito para isolar seletivamente certos conteúdos de um campo sensorial em detrimento de outros, a fim de manter um mundo ordenado e produtivo”.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A proliferação de produtos eletrônicos garante que a docilidade provocada no sujeito esteja sempre ligada a padrões de consumo. Ao mesmo tempo, assistimos à expansão de outro nível de tecnologia disciplinar - “o uso generalizado de potentes psicotrópicos como estratégia de controle comportamental”.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Isso tudo nos parece familiar nos dias de hoje, quando a atenção parece algo difícil de se manter diante de inúmeras possibilidades que se apresentam. Desta forma, surge a necessidade de descobrir maneiras de educar e controlar a atenção.</span></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://clalliance.org/wp-content/uploads/2014/05/HowardRheingold.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://clalliance.org/wp-content/uploads/2014/05/HowardRheingold.jpg" height="162" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Howard Rheingold</td></tr>
</tbody></table>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No livro </span></span><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed699_a_vida_que_teremos_na_web" target="_blank">Net Smart: How to Thrive Online</a></span><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">, este é objeto de estudo de </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Howard_Rheingold" style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;" target="_blank">Howard Rheingold</a><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">, que passou a observar seus alunos, pesquisar sobre o tema e a procurar outros pesquisadores que também investigavam o assunto, com o objetivo de encontrar respostas que pudessem ajudar a compreender melhor o atual momento que atravessamos. </span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O autor analisa processos biológicos, cerebrais e cognitivos, além dos aspectos culturais, na tentativa de formar uma espécie de manual prático de comportamento, para garantir que estejamos atentos em nossa capacidade de controlar nossa atenção e evitar as distrações.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Rheingold acredita que podemos controlar a atenção através da regulação da respiração e da meditação, também por meio da definição de metas, pois a intenção e a manutenção do foco fazem com que tomemos decisões conscientes. Defende ainda a compreensão do processo de controle da atenção, através do controle executivo.</span></span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="s1"></span><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">Há pontos comuns nos dois trabalhos, como a questão da atenção seletiva, quando vários processos sensoriais são inibidos para alcançar clareza, Rheingold descreve esta filtragem de estímulos como efeito Coquetel.</span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/iO3jTl0WuS4?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">É importante descobrirmos a veracidade das informações, identificar e filtrar todo o lixo que recebemos e nos concentrarmos no que realmente for importante. Através da pesquisa dos autores podemos perceber a importância do desenvolvimento de uma literacia que nos auxilie a reconhecer armadilhas que possam estar por trás das tecnologias comunicacionais cada vez mais presentes em nosso dia dia.</span></div>
</div>
Lícia Fajardohttp://www.blogger.com/profile/08736497851654649810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-33596017162270280372014-12-08T02:43:00.002-08:002014-12-08T02:43:32.932-08:00Caiu na rede é peixe<div class="MsoNormal">
A observação do pensador marxista Walter Benjamin sobre o
autor (e produtor de informações) estaria voltada para uma divisão de
interesses e autonomia, considerando as diferenças do escritor burguês e
escritor progressista. A liberdade de escrever o que quiser estaria delimitada
de acordo com a função e o nicho do autor. Referenciando Tretiakov, Benjamin
compara dois tipos de escritores, o operativo e o informativo: enquanto a
função do segundo é apenas informar, “a missão do primeiro é não relatar, mas
combater, não ser espectador, mas participante ativo”. Mergulhamos aqui em duas
grandes dicotomias de teorias do jornalismo, a do espelho e a construcionista
que trazem dois olhares distintos sobre produzir jornalismo. Por um lado, o
jornalismo deve ser imparcial e relator fiel da realidade, sem dispor de
opiniões, como se fosse um espelho a refletir exatamente o que acontece ali,
enquanto o construcionista deve atuar ativamente na construção de uma sociedade
melhor de forma a delimitar não apenas uma opinião, mas também nortear uma
série de reflexões que possam fazer o mundo um lugar melhor. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que temos agora é uma pluralização gigante de “jornalistas”
construcionistas, que produzem conteúdo, promovem vínculos de identificação nos
meios alternativos, porque muitas vezes vários grupos de minorias não são
retratados como queriam na grande mídia. Sem entrar na grande questão
filosófica se o que o conteúdo informativo produzido livremente pelas milhares
de câmeras de celulares nas ruas, a fim de identificar um acontecimento social ou
um acidente é ou não é jornalismo, o que temos aqui são produtores
construcionistas de conteúdos que agem muitas vezes de forma operativa
(parafraseando Benjamin) na sociedade. Isso só é possível porque vivemos em uma
Cultura da Participação, onde todos são não só emissores de informação, mas
também produtores de conteúdo, seja ele ficcional ou não. Dentro dessa Cultura
da Participação, que é abarcada pela Cultura de Convergência, onde é possível
filmar com o celular e postar logo na rede, ficamos sabendo quase que
instantaneamente de incêndios, vemos vídeos produzidos pela galera da
comunidade sem corte e delimitação de estereótipos e temos acesso a materiais
ficcionais narrativos produzidos por fãs, que são muitas vezes até melhores do que
as propostas originais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sob o ponto de vista político, os meios digitais também
estão transformando os espectadores em participantes. Isso pode ser observado
nas manifestações de julho de 2013 e também em diversas outras questões do
dia-a-dia. Em relação às manifestações, graças às mídias alternativas e produção
de conteúdo independente dos próprios participantes vieram à tona novos olhares
sobre a realidade das manifestações, que a princípio a grande mídia não dava
total cobertura por questões políticas e pela amplitude do evento, onde seria
impossível captar tudo que acontecia no meio da multidão. Um bom exemplo é a atuação da Mídia Ninja nas
manifestações, que norteava através da cultura da participação um enfoque e
enquadramento diferente do convencional proporcionado pela grande mídia. Não só
a Mídia Ninja, mas também produções de conteúdos independentes de qualquer
pessoa que estivesse com o celular e observasse algo potencial de ser colocado
na rede era postado na internet e se tornava conteúdo informativo. Outros
exemplos rotineiros de como os espectadores também tornam participantes nos
meios digitais é que qualquer postagem pode auxiliar demais receptores e atuar
de forma a produzir uma crítica e buscar uma solução para um problema ao mesmo
tempo: informes sobre problemas relativos ao trânsito, enchentes, buracos nas
ruas, problemas no serviço público de saúde, corrupção, problemas relativos a
segurança. Embora esse espaço-rede propicie um mundo de noticias falsas,
fofocas ou verborragias desnecessária, é melhor ter uma rede livre do que algum
tipo de controle sobre ela. No mundo Big Brother, o que cai na rede é peixe e
muitas vezes esse peixe é saudável e não possui espinhos. Eles não só nadam em
um mar de informações, mas purificam e reproduzem conteúdo em um oceano onde
ocorrem poucas diferenciações de espécie: onde estamos todos juntos e
misturados. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05251991657995087514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-57061829551280575782014-12-07T10:41:00.004-08:002014-12-08T15:24:28.413-08:00A tentativa de ser herói<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;">http://drauziovarella.com.br/noticias/por-que-o-consumo-de-ritalina-aumentou-tanto-no-brasil/</span><br />
<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;">A notícia acima apresenta um dado crítico: o aumento do consumo de ritalina – remédio para déficit de atenção – em 800% na última década no Brasil. Apesar do remédio ser muitas vezes “demonizado” por pessoas que acreditam que ter déficit de atenção é normal, enquanto na verdade é um distúrbio (desenvolvendo um discurso preconceituoso sobre os usuários do medicamento e seus motivos) a atenção na sociedade contemporânea muitas vezes é tratada como uma obrigação. O sinal de alerta e produção máxima é cobrado rotineiramente pela sociedade contemporânea, que é cada vez mais competitiva e privilegia as “multipessoas”, que dão conta de várias funções em uma mesma carga de trabalho. Hoje não basta mais ser bom na sua área: tem que ter noção de todas as outras, estar conectado 24 horas por dia, saber o que se passa no jornal, estar sempre disposto a fazer o que for solicitado, dar cambalhota se necessário e não esboçar nenhuma forma o cansaço físico e mental. Nesse cenário, desatenção é sinônimo de preguiça, falta de interesse e resulta em queda de produção. Na tentativa de ser herói muitas pessoas acabam recorrendo desnecessariamente ao medicamento Ritalina, que funciona como uma estimulante do sistema nervoso e deixa a pessoa mais concentrada (um remédio, como citado por Dráuzio Varella, controlado e destinado para pessoas que possuem distúrbio de déficit de atenção). Os resultados podem muito ruins para as pessoas que recorrem ao medicamento sem realmente precisar e a causa dessa mutilação hepática desnecessária é uma castração cultural sobre qual o mercado de trabalho determina como nível de exigência, beirando a perfeição: não bastar ser humano, tem que ser herói com super poderes e condições que vão além das físicas naturais dessa espécie. Em alguns pontos do livro “Suspensões da Percepção”, o autor Jonathan Crary trabalha com o termo “atenção” como modo de interlocução de poder e critica estudos voltados para o DDAH sem profundidade, onde a desatenção é considerada algo catastrófico e ainda cita Foucault: “Já sugeri as formas assumidas pela atenção como um objeto relacionado à organização e ao controle concreto da educação e do trabalho. Nesse sentido, ela é inseparável do que Foucault descreveu como instituições ‘disciplinares’, mas é uma inversão de seu modelo panóptico, em que o sujeito é objeto da atenção e da vigilância. Daí a ideia moderna da atenção como uma sinal de reconfiguração desses mecanismos disciplinares”. Ainda dentro da temática, o pesquisador Howard Rheingold ressalta que a “atenção” nunca está sozinha: a intenção sempre anda de mãos dadas com ela. Portanto, quanto mais atraente for o objeto para mim e maior interesse eu tiver sobre ele, maior será minha atenção. E se hoje há um maior interesse e “atenção” voltada para a internet, para as mídias sociais e para as tecnologias é porque as pessoas possuem algum tipo de interesse por esses temas e por suas possibilidades. Em um mundo bombardeado com informações para todos os lados, Rheingold dá dicas em seu texto “Net Smart” de como podemos focar nossa atenção no que é relevante dentro de um mar de informações, sobretudo na era digital. Para sobrevivermos as possíveis tsumanis de dados que possam surgir, é necessário, segundo Rheingold, que façamos uma seleção para o direcionamento da nossa atenção, ou ao contrário estaremos perdidos. </span><br />
<br style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;" />
<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;">Ao contextualizar “atenção” e “intenção” como ideia proposta por Rheingold e o cenário contemporâneo que cobra o estado de alerta de super heróis com multipoderes, o que vemos é o aumento do consumo de Ritalina como uma ilustração da cobrança exacerbada de produção – o que vira uma bola de neve, pois o herói precisa da Ritalina, a Ritalina faz ele se tornar mais cansado e o cansaço resulta no próprio desinteresse. Será que se as metas não fossem diminuídas, ferramentas de motivação e participação fossem estabelecidas, o interesse e a atenção não voltariam sem a necessidade de “fonte mágica”? Pois é nessa terra contraditória de exigências que o super herói enfraquece e o homem desaparece. </span><br />
<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="background-color: #666666; color: white; font-family: 'Allerta Stencil'; font-size: 13px; line-height: 18.2000007629395px; text-align: justify;"><br /></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05251991657995087514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-35843558033529994332014-11-28T10:22:00.001-08:002014-11-28T10:23:11.196-08:00Política e InternetAcho importante primeiro situar o que Benjamin quer dizer com o "autor como produtor". A leitura do texto do filósofo, escrito no ano de 1934, mostra que uma de suas principais preocupações é refletir sobre a condição do autor - que ele trabalha também a partir de rubricas como o "escritor" e o "intelectual" - no interior da problemática que opõe o capitalismo e o socialismo - que ele pensa também a partir da dicotomia burgueses x proletariado. Ele se coloca abertamente quando, ao citar Brecht, diz que a "exigência fundamental" para o intelectual é "não abastecer o aparelho de produção, sem o modificar, na medida do possível, num sentido socialista" (p. 127).<br />
<br />
Para Benjamin, se o autor quiser de fato superar a condição de mero repetidor das tendências burguesas (preso aos gêneros separados, afeito apenas a uma espécie de "fruição inerte e sem causa" e escravo de uma técnica que só existe em função da manutenção do controle dos meios pela burguesia), é preciso que ele passe a dominar a técnica, submetendo-a ao trabalho intelectual (que seria, para ele, como já colocamos, o de modificar o aparelho de produção na direção do socialismo). 'Dominar a técnica' significa, para Benjamin, saber manejar as funcionalidades do jornal, que passou a ser um dos pilares de propagação de ideias da burguesia.<br />
<br />
Além disso, Benjamin coloca que para ele a "política correta" caminha em consonância com o "ponto de vista literário correto". "Correto" leia-se, novamente vale frisar, "em direção ao socialismo". O que significa que sem o domínio da técnica não há postura politicamente progressista.<br />
<br />
"O autor como produtor" de Benjamin seria, então, aquele que supera a postura de relator ou espectador passivo e parte para uma postura de combate e participação ativa, no interior da produção e no manejo da técnica (p. 123).<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJCPUYU1sCOMyv9NjeIbKa-FrS5yTmR4ias_S9Mh3rFQg1RE8G7yZa8Kl_ijpK7ZVkiChElRUvhIzpHJO0gvLVC20Ns6ONe5u_M1VcmQnfZmrFm7ARNzbyHeN4BBTky8pPmc97RTyIxv1_/s1600/internet+e+pol%C3%ADtica+936.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJCPUYU1sCOMyv9NjeIbKa-FrS5yTmR4ias_S9Mh3rFQg1RE8G7yZa8Kl_ijpK7ZVkiChElRUvhIzpHJO0gvLVC20Ns6ONe5u_M1VcmQnfZmrFm7ARNzbyHeN4BBTky8pPmc97RTyIxv1_/s1600/internet+e+pol%C3%ADtica+936.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
E então passamos para a segunda questão: Os meios digitais estão transformando os espectadores em participantes também do ponto de vista político? Para responder a essa questão, precisamos situar o que entendemos como "política". A palavra vem do grego e carrega o sentido duplo de significar tanto aquilo que se refere aos "cidadãos" quanto à organização das "cidades-Estado". Importante colocar isso porque nos remete ao grande debate do mundo contemporâneo, qual seja, o de até que ponto o sistema representativo institucional dos poderes legislativo e executivo traduz de fato o que é a palavra "política".<br />
<br />
Muitos autores têm pensado a questão.Giorgio Agamben, Jacques Rancière e MD Magno, dentre outros. Todos chamando a atenção, cada um à sua maneira, para o fato de que a política não se resume às instâncias representativas tradicionais. A prova disso pode ser verificada nas diversas manifestações de rua que ocorreram nos últimos anos. Entretanto, apesar de procedente, situar a questão a partir dessas passeatas pode ser perigoso, porque pode dar a entender que elas seriam a grande novidade no que se refere à política como algo mais que os partidos políticos. E nos parece que há mais que isso.<br />
<br />
No fundo, sempre houve uma política do cotidiano, uma política do desejo, uma política da arte, enfim, uma política que funciona para além dos partidos políticos e das instituições tradicionais. Ser "cidadão" sempre foi mais que apenas votar ou fazer parte de um sindicato. Além disso, devemos inclusive pensar até que ponto a própria palavra "cidadão" não acaba levando a pensar a questão de uma forma segmentada. Os estudos recentes na área de teoria da arquitetura, por exemplo, já trabalham com noções articuladas de "cidade" e "pessoa" (ver sobre isso, por exemplo, o trabalho de Rosane Araújo, "A cidade sou eu"), assim como com ideias como a de "habitar a mobilidade", do filósofo francês Hervé Regnaud, que coloca em questão a noção clássica de "lugar" a partir das mudanças trazidas pelo cenário dito "globalizado" (e que certamente pode ser estendida ao campo dos meios digitais). O cidadão de hoje não apenas vota, mas exercita sua cidadania ao navegar na rede; não apenas se inscreve na lógica de salários e rendimentos do capitalismo, mas modifica a cidade no que escolhe certos roteiros de diversão e fruição artística; enfim, não apenas colabora (ou não) com a vida em sociedade, de uma forma ou de outra, mas também com o seu desejo - o que muitas vezes se articula de forma inevitável com a vida em sociedade. Fundamentalmente, temos o poder substantivo, dos presidentes, generais e reis, mas temos, também, como coloca MD Magno, o poder como verbo, o poder de cada um (ou de cada formação). A política é, assim sendo, um jogo de incessantes confrontos e interconexões entre esses dois tipos de poderes.<br />
<br />
Parte fundamental desse jogo é jogada nos meios digitais. As chamadas "redes sociais", por exemplo, não são apenas redes de relacionamento privado, mas também verdadeiras arenas de confrontos políticos, de ideias das mais variadas procedências e nuances. A ponto de alguns analistas defenderem, por exemplo, que, sem a internet, Dilma Rousseff não teria vencido a eleição no Brasil, diante do fato de que as redes sociais serviram para contrapor a série de denuncismo vazio que geralmente ocorre nas épocas eleitorais na chamada "grande imprensa", em favor do PSDB. Além disso, vale colocar ainda que a internet é uma formação política por essência, na medida em que acolhe toda e qualquer manifestação, das mais banais às mais sofisticadas, das mais ingênuas às mais escabrosas. E aí entra uma reflexão que acho válida em cima do texto de Benjamin.<br />
<br />
Em certo momento, quando coloca a questão da fotografia - dentro do contexto da relação entre ténica e política, a partir de sua perspectiva -, Benjamin traz o exemplo da legenda. E diz que "temos que exigir dos fotógrafos a capacidade de colocar em suas imagens legendas explicativas que as liberem da moda e lhes confiram um valor de uso revolucionário" (p. 129). E condiciona isso ao fato de que os autores precisam aprender a fotografar, para que seja superada a fronteira técnica que separa a escrita da imagem.<br />
<br />
Benjamin alertava para um ponto que é fundamental e que serve ainda mais no mundo contemporâneo: não existe imagem sem escrita e escrita sem imagens. E os meios digitais, como sabemos, levam essa realidade a patamares ainda mais amplos. Porém, no meu entendimento, o grande problema com a abordagem benjaminiana é justamente o fato de que, para ele, a função da legenda estaria em seu caráter "explicativo" em relação à foto. Benjamin parte de uma separação rígida entre "diversão passiva" de um lado e "participação ativa" de outro, para propor que o autor só é produtor quando gera algum tipo de intervenção explicativa que desloca o espectador de sua posição "burguesa", ou seja, de fruição inerte - e desconectada da percepção das "relações de produção" (no sentido marxista da expressão). Faz sentido diante da perspectiva socialista do autor, mas não parece caber no campo das mídias digitais.<br />
<br />
Por outro lado, seria também apressado conferir às mídias digitais um potencial "participativo" intrínseco. Elas estão inseridas nos mesmos jogos de força que sempre permearam as relações políticas, desde os gregos: grupos (ou formações) mais poderosos(as) versus grupos (ou formações) menos poderosos(as), em constante guerrilha, em várias frentes de batalha. Há, portanto, de fato, grupos mais "passivos" e outros mais "ativos". A questão é que essas batalhas nunca foram absolutamente verticais, em nenhuma época. As formações mais poderosas sempre contaram com a aquiescência - e o fermento - das menos poderosas para manterem seu poder. E, em certo sentido, as formações menos poderosas sempre vislumbraram algum tipo de poder a mais nesse exercício de aquiescência. O referente de Benjamin, que é básica e tipicamente marxista, não permite enxergar esse ponto, porque parte de uma divisão rígida entre "burgueses" de um lado e "proletariado" de outro. E a rede - inclusive naquilo que ela constrói de interseção com as ruas - não funciona a partir desse referente.<br />
<br />
Portanto, qual seria a resposta diante da pergunta que questiona se os meios digitais estão transformando os espectadores em participantes também do ponto de vista político? Acho que primeiro precisamos refletir se, diante da lógica política da rede, podemos mesmo trabalhar com a ideia de "espectadores". Se a política é a ampliação dos poderes-enquanto-verbos, e se a internet é acolhedora da diversidade desses poderes, então ela é política em sua essência. Não no sentido socialista que Benjamin prezava; mas sim no sentido da criação de várias possibilidades de interseção entre os poderes e entre as linguagens. Inclusive, por exemplo, a possibilidade da escolha de uma aparente "passividade" que entretanto "ativa" outras frentes - o que coloca em cena a lógica da "razão cínica" trazida por outro alemão, o também filósofo Peter Sloterdijk, e que é uma das facetas do mundo atual.<br />
<br />
Talvez isso sirva inclusive pra repensar a separação rígida que existe entre socialismo e capitalismo. A internet possui uma estrutura de funcionamento que parece ser socialista e capitalista ao mesmo tempo. "Socialista" na medida em que coloca as diferenças em contato através de um meio comum; e "capitalista" no sentido de que estabelece esse contato a partir de uma lógica de trocas e re-valorações que acaba sendo um inesgotável "mercado de ideias" - inclusive no sentido financeiro. Essa talvez seja a grande política dos meios digitais. Política que cabe bem no conceito de revirão, de MD Magno.<br />
<br />Marcelo Henrique Marques de Souzahttp://www.blogger.com/profile/16885784447989513694noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-49026839684189900852014-11-05T05:15:00.000-08:002014-11-05T05:15:05.766-08:00Considerando as especificidades dos pontos de vista dos dois autores discutidos, Crary e Rheingold, escreva uma reflexão sobre os mecanismos de atenção na sociedade moderna e contemporânea.Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-14694339586044928472014-10-29T07:20:00.001-07:002014-10-29T07:20:11.409-07:00Nutrientes para a máquina<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Quando pensamos em
interatividade o que primeiro nos vem à mente é o alto grau de participação que
podemos alcançar, sobretudo, nos nós interconectados das redes, que nos
propiciam trocas simbólicas de opiniões, ideias e ações dentro das
multipotencialidades dos códigos de comunicação. Porém, com o desenvolvimento
da alta tecnologia, a noção de interatividade tem sido uma experiência mais
diversificada do que simplesmente exercer algum tipo de troca e influência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Janet Murray, professora
da escola de literatura, mídia e comunicação do Instituto de Tecnologia da
Geórgia, compara as potencialidades de interação das novas mídias associando ao
caráter hiper-real que os parques de diversão podem apresentar e metaforiza: “Para os espectadores, a diferença entre as experiências
fronteiriças da mídia tradicional e aquelas realizadas hoje pelos artistas no
mundo digital é que, desta vez, nós também fomos convidados para entrar na boca
do dinossauro”. Esse “dinossauro” pode ser tanto o do parque, que agora podemos
entrar e conhecer um dinossauro de verdade e também a própria grande mídia, com
sua pluralidade gigantesca e monstruosa, que muitas vezes parece nos comer
monstruosamente. Já que fomos engolidos pelo “bicho”, por que não fazer parte
de sua própria natureza energética? A interação na alta tecnologia nos tira do
cerco limitado de “exercer influência em” e amplia nossas ações para agora
podermos “fazer parte de”. Agora que fomos engolidos, somos alimentos cruciais
do sistema e nossas ações geram energia para que a máquina funcione: em outras
palavras somos parte integrada e integrante dos meios e a nossa potencialidade
enquanto componentes nutricionais é justamente compor e participar desse
organismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Agora,
narrativas não tem mais sentido sem nossa participação, pois elas só serão
construídas com nossas ações, games online não funcionam mais sozinhos e até
aquela notícia poderia ser mais bem nutrida com nosso “pitaco” (mesmo que nosso
“pitaco” não seja lá assim tão saudável e gere um certo mal-estar pro sistema)
e assim acontece a interatividade hoje. Ela pode estar tanto associada às
inúmeras conexões e nutrições cerebrais que podem expandir dentro da mente o
potencial daquela mensagem-imagem-narrativa para além e seu espaço-comum (e isso
engloba diversas formas de arte como o teatro e a pintura, como exemplifica
Manovich em <i>Language of New Media</i>) e
também como uma relação digital entre corpo e máquina que resulta em “toda a
experiência como obra de arte a ser construída”, como propõe José Bragança em
Da Interatividade Crítica da Nova Mimeses Tecnológica. Bons exemplos dessa
interatividade (tanto no sentido de trocas energéticas cerebrais, quanto a
construção da obra a partir de uma ação sobre o sistema) temos o videoclipe de
Bob Dylan e da banda canadense Arcade Fire, que precisam de nossa ação cerebral
e gestual para se construir – elas não funcionariam sem a interatividade. No
videoclipe do Bob Dylan, construímos as imagens a partir de um híbrido entre
televisão e internet: detemos em nossas mãos a interatividade manual do “poder”
do controle remoto de mudar o canal na hora que quisermos e cada canal são
projeções de imagens diferentes a configurar o mesmo clipe. Nesse sentido, cada
experiência será única e singular, pois as pessoas mudariam de canal em horas
diferentes e isso geraria uma interatividade de diferentes clipes para cada
tipo de “telespectador”. No caso do clipe da Arcade Fire, digitamos um local
sobre nossa infância e as imagens são construídas de acordo com a busca sobre aquele
destino no Google Earth. A experiência de vermos nosso local ali no meio
daquela música traz um tom de nostalgia que também vai resultar em diferentes
concepções e clipes que variam de pessoa pra pessoa, de acordo com o destino
que ela buscou – dessa forma, nenhum clipe será igual ao outro e a construção
do mesmo acontece com o repertório cultural de cada molécula atuante sobre o
sistema. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A
interatividade existe em ambos os casos como experiências individuais que
variam de pessoa pra pessoa e um sistema que só funciona como nosso poder a
ação energética sobre o clipe. Assim, somos alocados mais uma vez em nossa
função existencial e alimentar no “cíbrido” da cadeia tecnológica da
interatividade: servir de nutrientes para a máquina. <o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05251991657995087514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-82262083670631984192014-10-23T08:01:00.000-07:002014-10-23T08:01:58.634-07:00A obra de arte total e seu códigoBob Dylan lançou <a href="http://video.bobdylan.com/desktop.html" target="_blank">o clipe</a> de <i>Like a Rolling Stone</i>, em 2013, com um detalhe mais importante do que a música: a interatividade entre o clipe e o espectador. Obviamente, a música em si não é o evento, mas o fato de que o artista decidiu, ainda em vida, ser trazido de volta recontextualizado (#vqc). Ao que tudo indica, colou. <br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJDso2g7xZwthLYNQXI4W72ejkMc2Wl91uju45fRiw8lgRl16U9iBJZCZrribmc8MbcAZnP35kWWqtQMx7h1xCPBEfcKQxX3_LBEUA4jts26I94JIgzkwEjK-c8GH1VVs2q7wUew3YYY/s1600/hdf.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJDso2g7xZwthLYNQXI4W72ejkMc2Wl91uju45fRiw8lgRl16U9iBJZCZrribmc8MbcAZnP35kWWqtQMx7h1xCPBEfcKQxX3_LBEUA4jts26I94JIgzkwEjK-c8GH1VVs2q7wUew3YYY/s1600/hdf.jpg" height="205" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"How does it feel?" Nos vários canais do clipe, a voz de Bob Dylan está sincronizada com as cenas mais inesperadas.</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
Essa regorgitação, para uns, é a prova da impossibilidade de a arte ainda conseguir ser criativa, uma vez que passou a fazer parte de um certo "buraco negro", ou "interfaces", que irremediavelmente traga produtores e consumidores - a abertura do sistema acaba por incluir tudo no sistema. Como José Bragança de Miranda traz para o debate em "Da Interactividade. Crítica da Nova <i>Mimeses</i> Tecnológica", se não há mais novidade que resista à interatividade, o que
resta de artístico é o diálogo entre programa e usuário. O clipe mencionado acima é um exemplo desse diálogo, assim como o website <a href="http://www.thewildernessdowntown.com/">www.thewildernessdowntown.com</a>, desenvolvido como clipe da música <i>We Used To Wait, </i>da banda canadense Arcade Fire. No site, é solicitado ao internauta a cidade na qual ele(a) cresceu. Em seguida, quando a música começa a tocar, a narrativa imagética começa a ser construída com imagens do Google Earth da cidade do input. <br />
<br />
A arte nunca foi excludente, por mais que invocasse apenas a participação exterior e não a interação (modificação do objeto artístico pelo espectador), mas desde o dadaísmo andava em crise existencial. O pós-modernismo deixou isso de lado e percebeu que é no input em tempo real que se encontra a grande sacada da arte. Em suma, o que importa é: o que é possível fazer com o mínimo de programação e o máximo de aleatoriedade? Essa dinâmica, a do tempo real com experiência pessoal, é que concede uma aura inédita aos velhos hits: no clipe de Dylan, somos nós que escolhemos quais imagens devem ser sincronizadas com a música, numa troca de canais que pode ter "n" combinações.<br />
<br />
Ainda assim, fica a pergunta: se a interatividade é a promessa da única renovação possível da arte, não estará ela sempre limitada ao código? Sim. Mas o que não é limitado por um certo "código"? Pegamos como um exemplo extremo o universo. A aleatoriedade com que a matéria se organizou depois do Big Bang é apenas aparente. Por que o mundo se organizou a partr do caos? Por que as coisas exercem funções, se agrupam, criam organismos, sobrevivem e evoluem? Não estamos todos "condenados" a certos códigos? Por que com a arte seria diferente, do seu surgimento aos dias atuais?<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh92BIag4BkF11L91lK_03wh389ssCiFBs94ZSoVVz-fGwp8026fcQP5Czd7H5aI9EGvYQKe-CUqzZ6tugTUoUquM_BnWZZvMgi83t_MwJhbiBoDkyzo8Y9QmAq4VnqfkzI_O3dknFwe08/s1600/Lucy-poster-br.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh92BIag4BkF11L91lK_03wh389ssCiFBs94ZSoVVz-fGwp8026fcQP5Czd7H5aI9EGvYQKe-CUqzZ6tugTUoUquM_BnWZZvMgi83t_MwJhbiBoDkyzo8Y9QmAq4VnqfkzI_O3dknFwe08/s1600/Lucy-poster-br.jpg" height="200" width="134" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A interatividade total</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Miranda diz que o ciberespaço proporciona o deslocamento mental do tempo e do espaço, mas isso é só o começo. Estaríamos caminhando para a utilização da última interface: o cérebro que será capaz de criar uma realidade realmente interativa. Para os programadores, nada que um chip não resolva. Para os físicos quânticos, a interatividade <i>is out there in space</i> (universos paralelos existem, cabe ao nosso cérebro/mente evoluir para acessá-los). Para Hollywood, a interatividade total está em altas quantidades de uma droga poderosíssima (Lucy que o diga). <br />
<br />
Atualmente, só faz sentido falar em arte quando a obra traz consigo um rompimento de limites. A arte é a tecnologia, a capacidade do ser humano de surpreeender. No caso da interatividade, esta tem que ser impurificada para poder ter valor
estético. Enquanto não alcançamos a interatividade perfeita, a máquina sem interfaces, o importante, e o artístico, é não esgotar o programa. D. Anahttp://www.blogger.com/profile/14719653854039010368noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-83180490175992351762014-10-22T08:15:00.001-07:002014-10-22T08:17:34.922-07:00<div style="text-align: justify;">
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Com
a proliferação do digital, da comunicação em rede e do
agenciamento interativo, a questão da técnica apresenta-se
novamente vigorosa ao campo de discussões sócio-tecnológicas.
Nesse cenário, ultrapassado pelo niilismo moderno e pela
disponibilidade, desfragmentação e aceleração (presentes, por
exemplo, nos movimentos artísticos de vanguarda), talvez seja
relevante pensar nas ideias de Heidegger e na sua relação com o
contemporâneo.</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;">É
comum – talvez por tradição teórica – tomar a comunicação em
sua dependência das posições de sujeitos e objetos, e com isso no
seu potencial de manipulação com fins ao consumo, alienação ou
influências. Ideia que se apresenta próxima do conceito de bestand,
de Heidegger, relacionado mais com a potência que com a essência
que possa advir da técnica. Trata-se de um aproveitamento
condicionado da energia, de uma manejo, uma exploração, um uso
instrumental.</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Um
exemplo hoje pode ser denotado no potencial participativo das pessoas
junto aos aparatos tecnológicos. Muitas correntes teóricas
trabalham com a ideia de produção e consumo, fruto principalmente
da web e das possibilidades de interatividade. O que seria essa tal
produção? O uso potência para uma atividade de criação? O
manipular das possibilidades disponíveis? Uma ordenação das
energias de reserva (bestand)? Uma exploração técnica programada
de modelos dados? </span>
</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;">É
obvio que as atuais tecnologias abrem espaço para todas essas
possibilidades, mas seria reducionista pensar que a sua essência
termina por aí. Heidegger propôs que a técnica moderna abre
possibilidades para além das determinações tecnológicas; que na
sua essência – “que não é nada de técnico” – pode-se
desvelar o caráter da tecnologia como poiesis, e não somente como
instrumentalidade.</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Muitos
são os que operam as energias de reserva superficialmente disponível
– e isso torna-se cada vez mais agudo. Mas será que são muitos
também os que a operam essa energia para ampliar as possibilidades,
de maneira mais profunda, subvertendo esse superficialmente dado? </span>
</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;">Trata-se
aqui de pensar, então, na possibilidade de operar de maneira a
deslocar os enquadramentos. Trata-se de pensar em Gestell, no
movimento que impulsiona o ser na revelação de um “real”, e em
arte, a partir de sua origem grega (téchne), não ligada apenas a um
prazer estético, nem a uma atividade cultural, mas a um conhecimento
que provoca abertura e descobrimento.</span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<span style="color: white;"><br /></span>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;">O
aproveitamento das possibilidades técnicas contemporâneas seria
mais vigoroso se ao invés de utilitarismos, as ações fossem “atos
poéticos”, fossem arte; operassem a subversão e o deslocamento
para fora dos enquadramentos (ou pelo menos, para o transito entre
outros enquadramentos possíveis). E no seu modo de operar a
tecnologia, suas aberturas e potencialidades, pudessem explicitar
capacidades da nossa própria espécie, desconstruir conceitos
histórico e socialmente construídos a que estamos apegados e
revelar novas possibilidades, proporcionando estranhamentos, choques,
incômodos, dúvidas etc, capazes de produzir deslocamentos,
produções de novas metáforas e de progressivas questões</span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09144060212769176471noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-92135753028716647232014-10-22T08:05:00.003-07:002014-10-22T08:13:00.322-07:00Produção e política<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;">Em
sua crítica, Benjamin discute o papel fundamental dos escritores no
combate ao fascismo. O autor, em termos conceituais,
estabelece uma diferenciação entre o que seria um escritor burguês
e um progressista, sendo este aquele que decide a favor da causa
proletária, que se coloca no campo da luta de classes e que tensiona
a estrutura dos meios de produção. Trata-se do “autor como
produtor”, solidário não apenas com o proletário, mas também
com outros possíveis produtores.</span><br />
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Com
essa lógica, Benjamin parece realçar um argumento em prol de uma
revolução, que, no tocante aos meios de produção, seria uma certa
desespecialização dos próprios meios, o que significaria uma
abertura do processo produtivo para além dos credenciados, adotando
uma lógica de uso legítimo onde todos podem, por princípio,
produzir.</span><br />
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Essa
última ideia ganha força hoje se pensarmos no potencial aberto
pelas tecnologias contemporâneas. Elas apregoam que todos podem –
desde que tenha interesse e acesso – tornar-se também produtor. O
digital e a lógica de rede facilitou o manejo a favor da produção
de conteúdos diversos, ampliou as negociações e interações –
do contato para as conexões – e eliminou certos entraves
espaço-temporais. Tudo isso, num primeiro momento, indica que, em
termos políticos, há uma possibilidade maior de participação das
pessoas na luta das causas que lhes interessarem.
</span><br />
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Para
ilustrar essa situação, basta ver os acontecimentos de junho de
2013. A partir de organizações que começaram nas redes sociais,
estourou a nível nacional um movimento (ou movimentos)
contestatório(s). Sua ação ultrapassou, por exemplo, a mídia
convencional (que tornou-se, inclusive, alvo a ser contestado) e
revelou uma insatisfação tão pontual (motivadas por diversas
questões) como geral (tocou todo o país).
</span><br />
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">No
entanto, se pensado em termos do potencial hoje ofertado, talvez a
participação não seja tão aguda se proporcionalmente comparada
com ativismos do séc. XX, por exemplo. Mas talvez seja inútil tal
mensuração. Talvez seja apenas diferente. Ou talvez o que as
relações atuais entre meio e produção tenha denotado aponte-nos
uma outra questão.</span><br />
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Parece-me
que ao abrir tais preceitos, os meios contemporâneos revelaram
metaforicamente potenciais possibilidades da palavra “poder”,
como nos apresenta MD Magno, ao falar sobre a passagem de um “poder”
substantivo (que me parece bem mais relacionado à época de
Benjamin) para um “poder” verbo. Agora as pessoas estão
percebendo que podem, que também tem o poder. Com isso, fica-nos a
prerrogativa de questionar se não seria o próprio modelo político
(poder substantivo) hoje o cerne de uma causa cada vez mais perdida.
As próprias bandeiras do movimento de junho alertaram: isso não me
representa mais.
</span></div>
<span style="color: white;"><br /></span>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="color: white;">Porém,
na falta talvez de uma proposta outra ou na própria invisibilidade
desse “poder” verbo, os produtores ainda apresentam-se modestos.
A causa ainda tocou a poucos. Ou não interessam a muitos. Breve
saberemos.</span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09144060212769176471noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-44075673625022278962014-10-22T07:57:00.003-07:002014-10-22T07:57:57.314-07:00Sobre a interatividade<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Mas,
afinal, o que é interatividade? Nada melhor que começar com uma pergunta, se
não para fugir do tema, ao menos para deixá-lo mais intrigante. Para Levy
(2010, p. 81), a “interatividade em geral ressalta a participação ativa do
beneficiário de uma transação de informação”. Para Séguy (1999) a
interatividade está presente na interface de produtos informatizados e oferece
ao usuário meio para sua possível movimentação e manipulação, permitindo-lhe
trilhar, acessar, ler, ver e alterar uma parte ou a totalidade das informações
disponíveis. Santaella (2007), ao comentar o estudo de Silva (2000), atribui à
interatividade características como multiplicidade, não-linearidade,
bidirecionalidade, potencialidade, permutabilidade, imprevisibilidade etc. Já
para Primo (2005, p. 13) são dois os tipos de interação: a mútua e a reativa.
Na primeira, a interação é um constante vir a ser, não pode ser prevista e sua
atualização se dá em função das ações de um interagente em relação ao(s)
outro(s). Enquanto a interação reativa “depende da previsibilidade e da
automatização nas trocas. Uma interação reativa pode repetir-se infinitamente
numa mesma troca: sempre os mesmos <i>outputs</i> para os mesmos <i>inputs</i>”
(Ibid., p. 13).</span><o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">De saída
percebe-se, portanto, que o termo é tanto característico de diversas
definições, quanto corresponde a todas elas, sem deixar – para colocar ainda
mais lenha na fogueira – de ultrapassá-las. Não seria, por exemplo, o ato de
falar uma interatividade? Não seria a molécula de água uma interatividade entre
dois hidrogênios e um oxigênio? </span><o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Afora essa
questão inicial, cabe-nos aqui relacionar a interatividade do ambiente digital
à dois fenômenos: o clipe do Bob Dylan e o Arcade Fire. E tomar como base
preliminar a crítica da mimese tecnológica realizada por Bragança de Miranda.
Segundo esse autor, a crítica está na predominância da interatividade como
visualização e na determinação da arte pela visibilidade, sendo que o essencial
desta seria a relação à invisibilidade. </span><o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Os dois
exemplos permitem um manejo do usuário. Este participa tanto de maneira
cognitiva, com produção de sentido e sujeito a interferências pessoais, quanto
de maneira mecânica na realização de algumas escolhas (clique, nome da cidade
etc). Com isso quebra-se a estrutura anterior, como a da TV, onde os manejos
eram mais limitados. Mas continua-se, em certa medida, na mesma lógica.
Agrega-se propostas de ação e conseguente visualização, mas mantém-se a
visualidade. Permite ao usuário novas operações estéticas e suas decorrências
sensórias, mas limita-se diante do potencial artístico do meio em seu caráter
subvertedor. Causa sensações e experimentações outras que a da TV, por exemplo,
mas será que realmente incomoda e causa estranhamento, deslocamento,
reviravoltas etc?</span><o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Diversos
artistas conseguiram esse caráter sem os recursos da web (Duchamp, Beckett,
Cage e outros). E todos de maneira inter/ativa. Portanto, a discussão da
interatividade na sua relação com o meio contemporâneo se mascara frente a seu
uso indiscriminado e superficial, embaçando outras propostas possíveis de
abordagem do tema, para além inclusive das propostas do séc. XX sobre o
assunto. Não sendo a interatividade uma novidade o que poderemos pensar então
sobre o tema? </span><o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">A
interatividade, como um recurso atual, pode facilitar a criação desses
incômodos, estranhamentos, deslocamentos e reviravoltas. Pode, se levada mais
adiante, revelar as mais diversas articulações possíveis entre o que há no
mundo. Pode explicitar desejos, pulsões, associações e recalques do nosso psiquismo.
Ou pode também servir (ou vir a ser) uma ferramenta tecno-social. De qual
interatividade falar? Eis, portanto, uma questão preliminar para todos os que
se interessarem pelo tema. </span><o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09144060212769176471noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-71122230850968965802014-10-15T09:42:00.000-07:002014-10-15T09:42:01.120-07:00Quais artes? Ge-stell e a crise ontologica do Ser<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Antes de pensarmos o texto de
Heidegger relacionando-o com a arte, devemos levar em conta a própria ressalva
feita pelo autor. Ele propõe que abramos nossa existência <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dasein </i>a essência da técnica. O pensamento de Heidegger sempre
aponta para suas investigações relativas à ontologia do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ser. </i>Ao meu modo de ver, devemos estar dispostos a analisar a
questão como um processo, assim como o próprio <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dasein - </i>modo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ser</i> - que
se faz <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sendo. </i>Levando em conta
sempre, que Heidegger, possui a concepção de que todo o pensar passa pela linguagem,
inclusive a arte.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Todos os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">entes </i>tem seu modo de ser, em que o
homem é um ente especial, pois é dotado da capacidade de questionar o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ser, </i>sendo o tempo o horizonte
transcendental desta questão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ao encarar a tarefa como um
processo, devemos nos perguntar sobre qual arte está sendo falada. As artes
pré-industriais, assim como a tecnologia, conviviam em harmonia com a natureza,
ou pelo menos com um universo que poderia ser descrito como natural. De alguma
forma as explicações remontam as doutrinas de Aristóteles com as quatro causas – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">causa materialis, causa formalis, causa
finalis e causa efficiens. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Já a modernidade é a aplicação
racional da ciência moderna sobre a natureza, diferindo das explicações gregas.
A ciência moderna vê nos números o artifício para descrever o mundo, que só
existem quando lhes são atribuídas medidas. Tal noção faz parte do impulso de categorizar
todas as coisas, transcrevendo-as em equações matemáticas, leis físicas,
modelos de representação, etc. É o conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bestand </i>de Heidegger,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>da visão
da tecnologia como um meio para a exploração e arquivamento da energia. O surgimento
de tal técnica é o que historicamente é definido por Heidegger como o fim da metafísica.
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Estas proposições revelam um
Heidegger de viés marxista, assemelhando-se a questões debatidas por Walter
Benjamin, por exemplo, ao propor a questão da perda de experiência. Benjamin
ligava o mundo pré-industrial à oralidade, sendo que o artesão fabricava peças
únicas, contrário ao processo industrial, que cria objetos em série, sem a
marca de unicidade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
É ai que dialogamos com o
conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ge-stell</i>, dizendo que a
tecnologia não é um simples resultado de escolhas humanas, mas sim um autômato
relativo ao humano. O conceito engloba, portanto, o conjunto de todos os modos
que se impõem ao ser humano que existe hoje. Para Heidegger a essência
tecnológica é anterior a própria modernidade e seus artefatos, sendo essa a
pura aplicação do "emolduramento" (em inglês – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“enframing”- </i>e em alemão - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">das
Ge-stell). </i>Neste sentido, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">das
Ge-stell, </i>representa o modo de desolcultamento da tecnologia moderna. Ao
mesmo tempo este modo, coloca em xeque as formas de desolcultamento anteriores
e ao que parece o próprio desolcultar. Isto caracteriza a crise ontológica da
existência do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ser, </i>que na concepção
heideggeriana é o portador da verdade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Seria a arte então uma saída para
este processo?A partir destas considerações, penso que devemos propor uma
questão mais ampla: será que toda arte é capaz de romper com este processo?
Nesta medida, percebemos que há produções que se enquadram dentro deste mesmo processo
de “emolduramento<i style="mso-bidi-font-style: normal;">”</i>, sendo estas meras
aplicações alienadas ao processo. Desta forma podemos incluir o processo
crítico frankfurtiano, sobretudo em Adorno e Horkeimer, e suas idéias sobre o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">esclarecimento</i>, que mais tarde culminaria
na crítica a Indústria Cultural.<span style="mso-spacerun: yes;"> Talvez seja necessário uma <i>experiência de choque</i> para que transpareça um pensar para fora desta moldura. </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
Thiago Meninihttp://www.blogger.com/profile/15437441828187294621noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-4251299942743921872014-10-08T12:36:00.002-07:002014-10-08T12:36:24.899-07:00It's all about the input!A política não mais reside em alterar o mundo daqueles que vivem de fazer política, mas em alterar os meios para que estes sejam, em si mesmos, um território político.<br />
<br />
A horizontalidade da produção e publicação de conteúdo já era observada por Walter Benjamin, em relação ao cinema e pela situação dos escritores a partir do final do século XVIII. Como observou Benjamin, em <i>A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica</i>, publicado em 1955, à medida que as técnicas da imprensa se desenvolviam, um número crescente de leitores começou a escrever, principalmente a partir da seção "Cartas dos leitores" dos jornais, meio que desenvolveu um papel central na formação das chamadas "consciência política" e "opinião pública". Como Benjamin observou, a crescente mão de obra especializada, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, contribuiu para o fenômeno da opinião do especialista e do valor da experiência nos relatos jornalísticos. <br />
<br />
Com essa variação de <i>input</i>, a sedução dos meios de massa também estava na possibilidade dos mesmos serem veículo de "contemplação individual", nas palavras de Benjamin. Esse fator pode ser relevante na investigação do papel dos meios e de sua relevância como ferramenta política. Ao mesmo tempo em que os meios aumentam o potencial de participação do indivíduo ou de sua associação, têm em suas raízes um caráter narcisístico. Eis o exemplo de Benjamin, em seu ensaio referido acima, com relação à estetização da política: "Na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos; agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma. Sua autoalienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem."<br />
<br />
Entretanto, ainda que o tipo ideal marxista consiga deslocar a estética do fim em si mesma (Benjamin termina seu ensaio apontando o comunismo como a ferramenta política da arte), há de se pensar em como a configuração dos meios possibilita as várias interações e alterações do <i>input</i> na rede, e nos meios digitais em geral.<br />
<br />
O "meio", por si só, é menos causa e efeito do que o <i>input, </i>ou seja, o pensamento que comanda a ação realizada pelos meios. No entanto, a engenharia dos meios exerce fator de inegável importância no desenrolar desse <i>input</i> e da cognição desencadeada por ele (entre esse fatores cognitivos, a atenção e a retenção das informações).<br />
<br />
Sendo assim, tudo o que os meios possibilitam tem origem no <i>input</i>, uma vez que a própria tecnologia é resultado (<i>output</i>) de uma intenção/ação. Os meios em si não facilitam ou dificultam a participação política, mas a maneira como fazemos deles meios realmente nossos. O conteúdo digital, desmembrável e rearranjado infinitamente, é matéria-prima abundante. Qualquer matéria-prima sob domínio de um artista se torna algo de valor, se não financeiro, conceitual. Portanto, a arte não se encontra na participação, somente, mas na criação de um <i>input</i> facilitador de outros, igualmente relevantes.D. Anahttp://www.blogger.com/profile/14719653854039010368noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-1897893365972366802014-10-03T09:00:00.001-07:002014-10-03T09:00:58.415-07:00inter ar tivida de Dylan<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
Em seu texto sobre a "<i>mimesis</i> tecnológica", o José Bragança
de Miranda faz uma pergunta, na página 210, que me parece sintomática:
"Será que para a abertura do 'novo' basta o aumento das possibilidades
combinatórias do programa?" A questão dele gira em torno da crítica da
interatividade como "<i>mimesis</i> tecnológica", ou seja, como um
arquivo de possibilidades "pré-computadas", do qual os operadores não
conseguiriam escapar, na medida em que tudo estaria de antemão computado pelos
programas (quando não como conteúdos, pré-definidos no limite das
possibilidades "técnicas" do aparelho). E então ele usa, na mesma
página, os exemplos de dois contos do Borges, pra ilustrar duas consequências
que são basicamente a mesma: o conto do mapa (para designar a ideia de que a
experiência não-digital estaria sendo substituída pela experiência digital, na
qual "tudo permanece") e o conto do jardim das veredas que se
bifurcam (para designar, como alternativa à "permanência", um quadro
de "mera confusão" - que, no contexto, tem a ver com algo que ele
chama de "'incompetência' ou 'mau uso' do operador"). Em outras
palavras, a "experiência digital" acaba sendo, no 'mau uso', ou
repetição ou embaralhamento aleatório de combinações que já existiriam
"agendadas" num rol de possibilidades técnicas inultrapassáveis.
Gostaria de me colocar diante dessas ideias, antes de situar o clipe do Bob
Dylan no contexto.<br />
<br />
Me parece que essa 'crítica do digital' que o autor faz tem muita semelhança
com todas as críticas que apareceram no século XX aos supostos funcionamentos
repetitivos da linguagem. "Discurso", "significado",
"sentido" etc, todas essas instâncias foram questionadas como sinais
de repetição e continuidade, daí resultando a percepção dos que aderem
reiteradamente como "alienados", "massa de manobra" etc.
Acho válido partir da distinção entre “analógico” e “digital”, pra pensar isso.
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Analógico</i> é “aquilo que pode assumir
valores contínuos”. Analogia significa “um ponto de semelhança entre coisas
diferentes”. Já o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">digital</i> é “a
representação de valores ou quantidades variáveis, por meio de conjuntos
finitos de algarismos”. Na linguagem, uma metáfora “legível” é analógica,
enquanto que o entendimento do alfabeto (conjunto finito) como um “limite
técnico” para a produção de palavras, que podem assumir formas variáveis sem
entretanto escaparem desse limite, pode ser um exemplo de lógica digital. No
final das contas, acho que os dois se parecem bastante: os dois são exemplos de
diferenças que se fundam na mesma base. A diferença talvez esteja apenas no
fato de que, na lógica digital, a base é “maior” (o conjunto prévio de
possibilidades é maior, quantitativamente falando) – é uma coisa sobre a qual
eu ainda não tinha pensado, então posso estar escrevendo uma enorme besteira:
mas vou seguir a pista, pra ver aonde vai dar.<br />
<br />
O que parece é que as duas palavras são limitadas pra situar a experiência
que temos diante de (ou em consonância com) tudo o que há. Muitos teóricos da
linguagem sempre consideraram o mundo como um grande texto, o que acaba, em
certos casos, levando a uma espécie de idolatria da linguagem, que impede que
se considere a rede mais ampla de conexões que forma a realidade. E isso serve
igualmente para a questão da tecnologia (e, com efeito, a da interatividade):
na tese do Bragança, senti um excesso de importância dado pelo autor para o
suporte técnico, quando na verdade há uma infinidade de conexões possíveis em
jogo, que são “compostas” e não apenas o 1:1 que ele sugere, trazendo o conto
do Borges (o do mapa).<br />
<br />
Acho que o Freud já tinha sacado isso com a questão das “associações
livres”. Ele dizia que o que move o inconsciente são essas “associações livres”
e não apenas o aparato redutor da ideologia e da cultura. Inegavelmente a
aderência é muito frequente, mas não por uma espécie de “essência” da coisa
toda, e sim porque as formações mais poderosas atuam para repetir certos
conteúdos com mais frequência. Existe uma tendência (que é diferente de
essência) nas pessoas de aderir, por uma série de motivos, tipo sobrevivência,
narcisismo primário, desejo de reconhecimento etc. Mas nada disso é da ordem da
“essência”, pois existe um componente ali que é da ordem da escolha. Preguiça é
também uma escolha. E aí entra a questão do Freud: na mente humana, as coisas
não funcionam como no dicionário, que repete conexões fixas e retesadas entre
as palavras e as coisas; na mente, o sentido flutua e flerta em conexões que
nada têm de convencional. Eu posso perfeitamente olhar para uma fruta e lembrar
do rosto de uma atriz de um filme que eu vi há dez anos – e não do nome
dicionarizado da dita fruta. No geral, as pressões da cultura são potentes (o
Magno certa vez chamou a cultura de “culstura” – porque força as amarras, tipo
“livro é texto”, “livro é texto”, “livro é texto” (quando na verdade livro pode
ser perfeitamente “som” ou “cheiro”, basta que a mente assim o queira ou
faça)). De qualquer forma, isso não apaga o fato de que a mente não funciona
assim.<br />
<br />
Nesse sentido, me parece que a mente não é nem “analógica” (porque não se
resume a produzir metáforas ou valores contínuos) e tampouco “digital” (porque
não se limita a um conjunto finito – e prévio – de algarismos, que orientariam
toda a produção que dali decorre). Arriscaria dizer que a mente humana é um
imenso e incomensurável “jardim de veredas que se bifurcam”, como sugere o
Borges. Ou, pra ser mais contemporâneo, um “jardim de redes que se <i style="mso-bidi-font-style: normal;">trans-furcam</i>”. Aliás, o Borges, que era
bastante inteligente e irônico, diz, no início do conto, que se trata de uma
declaração assinada por outra pessoa, e que – detalhe fundamental – faltam ao
texto as duas páginas iniciais. Podemos exercitar a associação livre da
seguinte forma: é como dizer que não há o tal “programa” prévio, que define as
combinatórias de antemão. Há, sim, uma tendência, a tendência de que certas
conexões se cristalizem com mais força, diante das pressões da cul[s]tura. Por
isso inclusive o Borges escreve no conto: “Em todas as ficções, cada vez que um
homem se defronta com diversas alternativas, opta por uma e elimina as demais”
(p. 89). Entretanto, na frase seguinte, ele mostra que entendeu basicamente a
mesma coisa que o Freud: “na [ficção] do quase inextricável T’sui Pên, opta,
simultaneamente, por todas” (idem). Nessa ficção, que é a da existência como um
todo (ou melhor, como um nada aberto e qualquer – “qualquer curva de qualquer
destino que desfaça o curso de qualquer certeza”, como diz a música “Qualquer”
do Arnaldo Antunes – detalhe: é a música quem diz e não “ele”, porque se trata
de um jardim e não de uma folha só), não há confusão, como imaginou o Bragança;
há “co-fusões”: entre su[b]postas imagens e su[b]postas palavras; su[b]postas
cores e su[b]postos sons; su[b]postos mares e su[b]postos cais. Enfim,
ver[e]dades que a poesia não se cansa de ensinar – através de palavras e de
outros su[b]postos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXVJCJxyVhePAH_YQPYiSRH8xtAHJyDa5F3Sag7x3D_SMhFjEmDbKiRLACaUrGCET9QNScmovV6V2RKsYX0gc8AIRCanjpZI3qcMva3qVJLEMxMky0rA_WDLGwY4bmlEKE6IIMS_HienwD/s1600/Enrique+Vila-Matas+Ar+de+Dylan+280.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXVJCJxyVhePAH_YQPYiSRH8xtAHJyDa5F3Sag7x3D_SMhFjEmDbKiRLACaUrGCET9QNScmovV6V2RKsYX0gc8AIRCanjpZI3qcMva3qVJLEMxMky0rA_WDLGwY4bmlEKE6IIMS_HienwD/s1600/Enrique+Vila-Matas+Ar+de+Dylan+280.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
E aí chegamos ao clipe do Bob Dylan. A ideia do clipe é permitir que aquele
que vê “mude os canais”, para ouvir a mesma música em bocas, formatos e
cenários diferentes. O trabalho é anunciado como um “videoclipe interativo”.
Pela tese da “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">mimesis</i> tecnológica”, o
Bragança na hora apontaria que as possibilidades estão prescritas e limitadas
pela quantidade de cenários escolhidos pelo músico – e que isso é similar ao
que ele aponta em relação à questão da “técnica”, na ideia mais ampla de
“interatividade”. Diria eu que, na verdade, toda situação é sempre inter-ativa,
na medida [in]exata em que nada existe que esteja fora de alguma conexão
qualquer. De certa forma, os ecologistas sacaram isso bem. Não existe árvore
sem céu, céu sem mar, mar sem peixe, peixe sem pescador – e vice-inversa. Tudo
sempre esteve co-nectado. Aliás, tudo não: é o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nada</i> que está sempre co-nectado, porque se fosse o “tudo” seria uma
coisa só, um tremendo (ou melhor, um parado) “nexão”. Nesse sentido, acho que o
que existe é sempre “inter-atividade”: de símbolos com imagens, de imagens com
cheiros etc etc. E nesse sentido, não me parece que a novidade do clipe esteja
em ser “inter-ativo”; o que ele faz de novo é trazer para o dedo aquilo que a
mente já faz. Mas é sempre bom lembrar que o dedo não existe sem a mente – que,
sem o dedo, arranjaria outra forma de apertar os botões (uma prótese, por
exemplo). Na minha opinião, a grande sacada do videoclipe pode estar em que ele
flexibiliza as inter-ações rígidas da TV – que é, como sabemos bem, um grande
veículo de geração de tendências (porque volta e meia simula que a conexão “A”
com “B” seria, na verdade, o nexão “C” – ou “nexão” não é um ótimo sinônimo
para a bazófia da “objetividade, isenção e imparcialidade” do jornalismo
televisivo?). Essa possibilidade sempre existiu, mas no videoclipe fica bem
elaborada.<br />
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O fato é que toda cena de videoclipe chega de uma
forma diferente para cada-uns (são sempre co-nexões) que está assistindo. A
gaita pode lembrar um-alguéns que já se foi; o cabelo do Bob Dylan me lembrou
do meu quando era garoto; e a chinesinha me recordou um livro de poemas
chineses que li no início deste ano. Existem outras possibilidades, claro.
Inclusive aquelas que ainda não foram pensadas por ninguém. Todas elas flutuam
em danças e redun-danças pelos labirintos do Haver (“Haver” é o conceito que o
Magno usa para designar “tudo o que há”). Isso significa que a “abertura para o
novo” não de-pende dos programas técnicos previamente estabelecidos, porque por
mais que as tendências ajam, o aumento efetivo das possibilidades combinatórias
é inescapável. Mesmo que uma certa-pessoas fale só daquelas que serão legíveis
e aceitas pela maioria, as outras acon-teceram, com certeza. Isso porque a
mente funciona sempre inter-ativa-mente. Bifurcando e trans-furcando veredas e
ver[e]dades, para além do óbvio ululante. Eu con-cordo que apesar disso a
burrice é galopante. Galopante como uma pedra maratonista. Mas não custa nada
lembrar que a mar-à-tona só escolhe ser pedra numa das trans-furcações. Noutra
ela pode [im]perfeitamente ser uma asa, que v-aza de um clipe voando, como bola
de tênis que escapa do estádio. Inter-ativa com os ventos da mente, que escapam
a todo tipo de programação.</span><br />
Marcelo Henrique Marques de Souzahttp://www.blogger.com/profile/16885784447989513694noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-39919861225969263122014-10-01T07:42:00.001-07:002014-10-01T07:53:23.262-07:00Como qualquer outra reserva de energia,<i> bestand</i> se coloca como potência, e não como essência. Talvez o dualismo sujeito versus objeto, de que tanto se ocupa os estudos da Comunicação, trata de pensar somente a potência, que na visão marxista estará sempre a serviço do capital. Nesse cenário, que coloca a tecnologia como a "mestre de obras" do capitalismo, aos consumidores estaria disponível apenas a manipulação de reservas de energia com fins de alienação, ou com o fim nela mesma, na própria manipulação do objeto pelo sujeito no ciclo infinito do consumo.<br />
<br />
Não é difícil perceber essa manifestação coletiva no mundo. Quantos são os que operam a reserva de energia de maneira a expandi-la, ou mesmo para transformá-la em algo que empodere o sujeito, e não apenas remodele infinitamente o objeto? Não são por acaso os esforços da literacia midática, que apesar de ser tema / disciplina relativamente recente, já fora introduzida por Herbert Marshall McLuhan em apenas um aforismo: <i>Mind your media, man! </i><br />
<br />
Mas talvez a questão mais urgente, já colocada <a href="http://poiesis2014.blogspot.com.br/2014/09/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html" target="_blank">em debate</a> por este blog, seja o papel da arte em deslocar a orientação do desenvolvimento tecnológico de um processo de <i>Gestell</i> (enquadramento) para torná-la ferramenta genuinamente pós-moderna. <br />
<br />
Em "<i>The Question Concerning Technology</i>", de 1954, Martin Heidegger define <i>Gestell</i> como uma força vital, invisível, que impulsiona o ser humano a revelar o "real", a "verdade". Heidegger também se refere à arte (<i>poiesis</i>) como um momento de êxtase, quando algo deixa de ser aquilo que à primeira vista se experiencia. Para Heidegger, <i>Gestell</i> interrompe essa transformação quando a tecnologia, ao invés de trazer o sujeito para o "aqui e agora", se transforma em utilitarismo.<br />
<br />
Essa implosão da potência tecnológica pode ser encontrada na estética, sendo a imagem a tradução mais fiel de seus propósitos. No jornalismo, a imagem é o enquadramento da realidade em pequenas capturas "fidedignas" ao terror ou ao prazer. No cinema, tal como ainda o experimentamos, a imagem é <i>Gestell</i> das possibilidades narrativas. Segundo Heidegger, a experiência estética é a morte da arte à medida que a estética canaliza a energia do sistema em que opera para um determinado fim, ou objetivo: aquele do manipulador. <br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0CC0QFjAB&url=http%3A%2F%2Fwww.clas.ufl.edu%2Fusers%2Fburt%2Ffilmphilology%2Fheideggerworkofart.pdf&ei=mAgsVK6lIpS-ggSH3oH4CQ&usg=AFQjCNH1qiDPXz0dl1KGSneOIWGC9BP3aw&sig2=FMdlC5X2TfwGPWYS7rR6Nw&bvm=bv.76477589,d.eXY" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;" target="_blank"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnyMe6_Lmle2z5cIn2XYBrXKwJQM2Hza-2Anoa3Im7WK_ms6nPgdxAZa8I8XndwwyITDuHzcUMo3u4kd374pzPFe8hKXmxrcTwVpncGU0tilJ7_JIhxmdtqLaKutCr1Ht4j6ACGM2_sfU/s1600/a+pair+of.jpg" height="165" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>Pair of Shoes </i>(1886), de Vincent Van Gogh.</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0CC0QFjAB&url=http%3A%2F%2Fwww.clas.ufl.edu%2Fusers%2Fburt%2Ffilmphilology%2Fheideggerworkofart.pdf&ei=mAgsVK6lIpS-ggSH3oH4CQ&usg=AFQjCNH1qiDPXz0dl1KGSneOIWGC9BP3aw&sig2=FMdlC5X2TfwGPWYS7rR6Nw&bvm=bv.76477589,d.eXY" target="_blank"><br /></a></td></tr>
</tbody></table>
Portanto, fim ou enquadramento são opostos de transcendência. <span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">Heidegger esperou por uma</span><span class="hps"> obra de arte</span> <span class="hps">que </span><span class="hps">seria</span> capaz <span class="hps">de</span> <span class="hps">inaugurar</span> o <span class="hps">futuro no</span> "<span class="hps">aqui e agora", desocultar</span> <span class="hps">entidades como entidades</span>. Ainda segundo Heidegger, a<span class="hps"> "verdade" é a</span> <span class="hps">verdade do ser</span>, é desvelamento, deixar o objeto se manifestar. <span class="hps">Nosso</span> <span class="hps">encontro</span> <span class="hps">fenomenológico</span> <span class="hps">com a arte </span><span class="hps">mostra-nos que</span> <span class="hps">o seu significado</span> <span class="hps">não é nem</span> <span class="hps">inteiramente localizado</span> <span class="hps">no objeto</span> <span class="hps">que está diante de</span><span class="hps"> nós</span> <span class="hps">nem é</span> <span class="hps">simplesmente</span> <span class="hps">projetada por</span> <span class="hps">nossa subjetividade</span>. </span><br />
<br />
<span class="" id="result_box" lang="pt">O <span class="hps">significado da obra</span> <span class="hps">deve, antes,</span> <span class="hps">ser</span> <span class="hps">realizado</span> <span class="hps">em nosso próprio</span> <span class="hps">envolvimento com o</span> <span class="hps">trabalho, em um</span><span class="hps">a negociação</span> <span class="hps">pela qual "desvendamos" o sentido do mundo. Para uma melhor compreensão deste enunciado, vale conferir os escritos de Heidegger sobre a pintura </span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">"Os sapatos"<i>, </i></span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">de Vincent Van Gogh. Para o download do arquivo, clique na imagem acima.</span></span><br />
<br />
<span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps"> </span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">Voltando à questão de origem deste <i>post</i>, a arte é a única ferramenta capaz de desenquadrar o mundo, pois somente ela pode desvendá-lo constantentemente. O papel do artista é proporcionar <i>insights</i></span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">. Segundo Heidegger, todos os</span> <span class="hps">grandes criadores</span> <span class="hps">devem ser capazes de</span> <span class="hps">discernir</span> <span class="hps">os contornos</span> <span class="hps">incipientes</span> <span class="hps">e inéditos de</span> <span class="hps">algo</span>, <span class="hps">ajudar a</span> <span class="hps">desenhá-lo</span> <span class="hps">para a luz</span> <span class="hps">do mundo, </span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">e assim</span> <span class="hps">criar ou renovar</span> <span class="hps">a herança</span> <span class="hps">ontológica</span> <span class="hps">da humanidade</span> <span class="hps">para o futuro.</span></span><span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps"> </span><span class="hps">Como</span> <span class="hps">isso sugere</span>, <span class="hps">no cerne</span> <span class="hps">da compreensão</span> <span class="hps">de Heidegger</span> <span class="hps">sobre a arte está</span> <span class="hps">um encontro com um</span> <span class="hps">"nada"</span> <span class="hps">que simplesmente não é</span> <span class="hps">o nada, mas</span>, ao contrário, <span class="hps">designa</span> <span class="hps">possíveis significados</span> <span class="hps">ainda</span> <span class="hps">escondidos</span> <span class="hps">dentro da tradição</span>.</span><br />
<span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps"><br /></span></span>
<span class="" id="result_box" lang="pt"><span class="hps">Por outro lado, se ao artista cabe esse papel, ao homem "comum" cabem duas opções: ou se tornar artista ou ser meramente ordenador (tal como no idioma espanhol para a palavra "computador") de energia. Se Heidegger não viveu o suficiente para perceber o potencial da tecnlogia como uma facilitadora transcendental, o artista do nosso tempo deve constatar que a sua tarefa é maior do que a sugerida por Heidegger. Além de desvendar o mundo, deve desvendar ao mesmo tempo a pequenez e a grandiosidade do homem frente aos aparatos. Esse é o sublime tecnológico, que por sua vez é tema de uma outra conversa.</span></span><br />
<span class="hps"></span>D. Anahttp://www.blogger.com/profile/14719653854039010368noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-20060895193428934682014-10-01T07:33:00.007-07:002014-10-01T07:33:43.071-07:00InteratividadeA partir das discussões da aula passada sobre a interatividade no ambiente digital, façam uma reflexão tendo como base os seguintes exemplos:<br />
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<a href="http://duka7.com.br/bob-dylan-lanca-um-dos-video-clipes-mais-incriveis-ja-vistos-na-internet/">Bob Dylan</a><br /><br />
<a href="http://thewildernessdowntown.com/">Arcade Fire</a><br />
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Bom trabalho!Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-21695448122859375202014-09-24T06:48:00.000-07:002014-09-24T07:10:59.713-07:00Sobre BenjaminReflexão para a segunda semana:<br />
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Será que os meios digitais estão transformando os espectadores em participantes também sob o ponto de vista político?<br />
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O que Benjamin quer dizer com autor como produtor?Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-74221487296026263782014-09-17T07:09:00.003-07:002014-09-24T07:12:52.877-07:00Arte e tecnologiaA reflexão que deixo a respeito dos textos da primeira semana é a
seguinte:<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
No cenário do vertiginoso desenvolvimento da tecnologia e da incessante
propagação de imagens, será que os homens se tornaram ou se tornarão meros
ordenadores da energia de reserva (bestand), e portanto, de tudo o que está
disponível para se tornar imagem no mundo?<br />
<br />
Será que a arte mostra-se, como nos dizia Heidegger, como uma possível saída
para o processo de Ge-stell, de constante "enquadramento" do mundo?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Peço que cada aluno escreva um texto reflexivo a partir destas perguntas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bom trabalho!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Gabriela </div>
Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5174357361560612556.post-39570844040382029172014-09-17T06:26:00.002-07:002014-09-17T06:26:31.210-07:00Caros alunos, começamos as atividades do blog da nossa disciplina.<br />
Sejam bem-vindos e bom trabalho!!!Gabriela Borgeshttp://www.blogger.com/profile/03869341643172351593noreply@blogger.com0