domingo, 1 de fevereiro de 2015

A polêmica sobre o conceito de interatividade



Na academia, qualquer tipo de conceituação acaba gerando algum tipo de conflito. Isto acontece porque todo conceito parte de um ponto de vista, um pressuposto, e há diversas óticas operando em cima de um mesmo objeto (aquele que está sendo conceituado por pesquisadores e intelectuais da área).

O conceito de interatividade, que ficou em voga com o despontar da Internet, é um exemplo deste conflito acadêmico. Isto porque interatividade é concebido por alguns pesquisadores como a mudança de sentido que intervém no sentido original da obra. Assim, quando um leitor lê um livro e subtrai dele um certo entendimento que pode não ter sido o planejado pelo autor, ele estaria interagindo com a obra e, portanto, aplicando a interatividade. A produção de sentido seria feita na mente do interpretador, E esta acepção mostra que a interatividade não é um elemento que surge com os meios digitais - este apenas a potencializa.

Em contrapartida, outro conceito de interatividade parte do pressuposto de que o usuário possa intervir diretamente no objeto com o qual está interagindo, modificando sua estrutura, agindo de forma ativa. Atribuindo este conceito, encaixaria aqui as ações em jogos online e videogames, onde você pode optar por diferentes caminhos e cada um leva a um resultado diferente. Porém, as consequências de cada escolha já são pré-programadas - o usuário só tem que definir qual caminho irá seguir, mas o resultado delas não pode ser modificado.

Há ainda outros críticos que consideram que nenhum dos exemplos anteriormente citados seriam interatividade realmente, pelo fato de que o usuário não pode ter domínio dos resultados de suas escolhas, apenas seguindo um programa pré-estabelecido. Para estes, a interatividade só existe quando o usuário possui domínio sobre suas ações e os resultados destes. Um exemplo deste ponto de vista são as histórias criadas colaborativamente. O responsável pelo projeto começa dando as diretrizes iniciais, e posteriormente os usuários dão a continuação, com total liberdade para seguir o caminho que desejarem, deixando para o próximo continuar também da forma que quiser.

Ao invés de colocar as três concepções em choque, como se elas se contradissessem, podemos reuni-las, como se as três fossem categorias diferentes da concepção de "interatividade". O primeiro caso se trata de Interatividade Reativa: a pessoa não pode modificar o objeto diretamente, podendo apenas reagir a ele, modificando o sentido ao qual o objeto se propôs.

O segundo conceito seria uma Interatividade Ativa Parcial: o sujeito consegue agir efetivamente sobre o objeto com o qual interage, mas não consegue modificá-lo por completo. Não possui domínio sobre as consequências de sua interação. Este seria o caso do clipe de Bob Dylan para a música Like a Rolling Stones e do projeto The Wilderness Downtown.

Já a terceira concepção se trataria de uma Interatividade Ativa Total: o sujeito consegue modificar o objeto, ajudando-o a ser construído ou determinando suas modificações. Outro bom exemplo disso é a Wikipedia, na qual o usuário colabora ativamente com o conteúdo, sendo a sua participação o resultado final. A intervenção feita ali é apenas para fins de correção, até que outro usuário interaja com este verbete.

Unindo essas três concepções, é possível enriquecer a concepção acadêmica de interatividade, sem descartar qualquer uma das acepções, que possuem sim seus pontos verdadeiros e relevância para o campo comunicacional.

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